Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - O TRAIDOR: Fidelidade ao teatro

Nanini une talentos com Gerald Thomas em 'O Traidor' | Foto: Carolina Tavares/Divulgação

Desde que o grupo de artistas surgiu em 1874 em uma polêmica exposição que visava romper com a estética vigente na época, os chamados Impressionistas, a relação com a arte virou de ponta a cabeça. As vanguardas do século 20 ainda hoje repercutem com seu principal dilema: forma ou conteúdo, mensagem ou impacto estético, significado ou mera fruição. A junção dos talentos de Marco Nanini e Gerald Thomas em "O Traidor" aponta, desde o título, para um espetáculo que é meticulosamente construído para mostrar a base do que é teatro, como arte performática.

Abrem-se as cortinas o que se vê é uma enorme escultura de Nanini, deitado de lateral, coberto com cordas, exatamente como Gulliver em Liliput. E ai surge Nanini, o ator solo, que se encaminha, no incrível cenário da ilha, para uma poltrona que lembra um trono medieval. O coro formado por Apollo Faria, Hugo Lobo, Marllon Fortunato e Wallace Lau desempenham movimentos que são performances para apoiar o que Nanini fala.

A primeira coisa que se percebe com a citação à teoria de tragédia de Niestzche que se contrapõe àquela de Aristóteles é que as indagações do ator são apenas um motivo para se pensar o que é a essência de teatro. Há que se contar uma história? Há que se ter uma multiplicidade de personagens? Há que se ter um conflito explícito, tradicional no qual a obra se baseia e irá resolver?

Está no palco de "O Traidor um jogo entre uma possível traição que levou o personagem à ilha e a explícita traição a um teatro sem invenções, sem qualquer ousadia. Os textos vão sendo falados, perguntas jogadas ao ar, movimentos aparentemente desconectados. Mas a dimensão de isso tudo é dada pelo ator extraordinário, além do talento que é Marco Nanini, que é iluminado por uma luz que funciona como uma instalação.

O acerto da montagem é a capacidade de diretor/ator/equipe formarem um conjunto sólido, aderente ao que se vai ver neste espetáculo repleto de perfeição. Direção, ator, cenário, luz, figurino, música, coro nos provam que a emoção gerada pela interação entre o que acontece num palco e o que se assiste ainda é a maior de todas.

SERVIÇO

O TRAIDOR

Teatro Prio (Jockey Club Brasileiro - Av. Bartolomeu Mitre, 1110)

Até 28/4, de quinta a sábado (20h) e domingos (19h).

Ingressos: R$ 160 e R$ 80 (meia)

 

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