Por:

Olga del Volga e seu humor ácido são revividos no palco

Gustavo Klein como Olga Del Volga, o personagem mais icônico do multiartista argentina Patricio Bisso | Foto: Mari Marques/Divulgação

Sucesso de público e crítica, "Quem tem Medo de Olga del Volga?" faz curtíssima temporada no Teatro Café Pequeno, no Leblon, até domingo (14). Estrelada por Gustavo Klein, a comédia revisita a obra de Patrício Bisso, multiartista argentino que rompeu barreiras, enfrentou a censura e se consagrou nacionalmente com a personagem "Olga del Volga" na TV e no cinema.

A dramaturgia entrelaça as jornadas de Patrício, Olga e Gustavo. Na peça, Gustavo recebe a ligação de um produtor de elenco, que o convida para o filme sobre Hebe Camargo, "Hebe - A Estrela do Brasil", para representar Olga del Volga, sexóloga e conselheira sentimental russa, ferina nos comentários, sempre presente no sofá da apresentadora a partir da década de 1980, criação de Bisso, ator, figurinista de teatro e cinema ("O Beijo da Mulher Aranha"), ilustrador e colunista. Ao aceitar a oportunidade, o ator sente o peso do papel e sua preparação é retratada no palco, mostrando as dúvidas, anseios, insegurança, medo, ansiedade e nervosismo.

Com humor ácido e números musicais, "Quem Tem Medo de Olga del Volga" mostra a riqueza do universo criativo LGBTQIAPN , valorizando o artista performático Patrício Bisso, e discute a homofobia noticiada e aquela que é feita à boca miúda.

A peça tem roteiro escrito pelo jornalista Tony Goes (1960-2024), que faleceu em fevereiro após a temporada de estreia da peça, a primeira da sua carreira. A direção está nas mãos do premiado ator e diretor Gilberto Gawronski, que trabalhou como assistente de direção da montagem do musical Theatro Musical Brazileiro, onde Patrício Bisso era o figurinista.

Com larga experiência em teatro, Gustavo Klein atuou nos musicais "Rapsódia, "Os Produtores", "Avenida Q" e "A Gaiola das Loucas". Na TV, fez o seriado "Pé na Cova" e a novela "Sangue bom", ambos na Rede Globo, além do filme e do seriado "Hebe - A Estrela do Brasil".

Wladmir Pinheiro assina a direção musical e está em cena como ator e pianista, acompanhando os números musicais divertidos e cheios de duplo sentido, como "Meus Russos", "Louca pelo Saxofone", "Picasso", "Pare, Repare, Espere, Desespere".

Os figurinos cenográficos são a marca de Bisso. O palco e suas personagens inesquecíveis foram tema de suas performances nos palcos paulistas nos anos 80/90. Em "Louca pelo Saxofone", mulheres surgiam encarnadas por ele em cena. O humor era um interessante contraponto com a seriedade para com seus figurinos, sempre elaborados nos mínimos detalhes. O seu forte era a reconstituição de peças inspiradas nos clássicos hollywoodianos. Para encarar o desafio desta homenagem, com figurino único e criativo, o também multiartista Cláudio Tovar foi convidado para estar à frente das roupas.

Contemplada pelo do edital FOCA 2022, a peça fez sua estreia no Turma Ok, clube LGBTQIAPN na Lapa, com apresentações entre janeiro e fevereiro.

Nascido em Buenos Aires em janeiro de 1957, o argentino radicado no Brasil atuava simultaneamente em espetáculos underground e em veículos de comunicação de massa. No cinema, seu papel de maior destaque foi a "Juanita" do filme "Dias Melhores Virão". Como Olga, integrou o prestigiado sofá dos programas de Hebe. O sucesso foi tão grande que levou a personagem ao cinema e à teledramaturgia, fazendo a novela "Um Sonho a Mais" (1985), na TV Globo. Patrício lutou contra o preconceito, venceu em uma terra longe do seu país de origem, teve que enfrentar a homofobia no meio em que trabalhava. A sua prisão por um incidente em 1994 o tirou dos holofotes e o fez retornar à Argentina, para nunca mais voltar ao Brasil. Faleceu em 13 de outubro de 2019 vítima de um infarto fulminante.

"Patrício era muito mais do que Olga. Era um ilustrador de primeira linha, um figurinista que poderia ter feito carreira em Hollywood e uma personalidade única no palco. Apesar de sempre venenoso quando estava em cena, na vida real Patrício era tímido. Foi um desafio escrever meu primeiro texto para o teatro, e justamente um monólogo. Levei um ano para concluir o texto, conversando com Marcelo Aouila (diretor de produção da peça) e Gustavo, fazendo pesquisas na internet e conversando com quem conheceu Patrício Bisso melhor do que eu", revelou Tony Goes à época da estreia do espetáculo.

SERVIÇO

QUEM TEM MEDO DE OLGA DEL VOLGA

Teatro Municipal Café Pequeno (Av. Ataulfo de Paiva, 269 - Leblon)

Até 14/4, sextas e sábados (20h) domingo (19h)

Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.