Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - ENTRE FRANCISCOS, O SANTO E O PAPA: É dando que se recebe

Gorgulho e Mello em cena em 'Entre Franciscos' | Foto: Guilherme Logullo/Divulgação

A oração de São Francisco é aquela que diz que a nossa ação alcança aquilo que se quer atingir. A partir disso, Gabriel Chalita cria uma aparente situação corriqueira entre o Papa Francisco e Francisco um morador em situação de rua. Francisco, o papa, está em uma lavanderia que criou para que os desassistidos possam ganhar dignidade.

É o movimento de pêndulo entre o racional, da máquina de lavar que é uma forma de salvação, e a aparente simplicidade de Francisco que o belo diálogo entre a fé e as condições que enfrentamos hoje - entre o amor e o ódio, entre o horror e a felicidade, assim como na oração - se desenvolve de forma que leva a platéia a também pendular entre o racional do papa e a paixão de Francisco.

A escolha do elenco é um acerto, pois Paulo Gorgulho, o papa, anda exatamente como um idoso, cansado, exausto de tudo que já viu e das batalhas, que considera perdidas. César Mello, que representa os homens, é preto, ator habilidoso, o que permite que a situação ganhe tintas realistas.

A direção de Fernando Philbert é criativa, certeira e habilidosa para ressaltar os impasses todos ali colocados. O poder, o povo, a simplicidade dos sentimentos, os cânones repressores são expostos pela forma como Fernando dirige os atores: contenção para o papa, amplitude para Francisco. Voz doce para Francisco, voz tonitruante para o papa. E mais. A introdução dos cantos e dos ritmos iorubás mostra que a fé, a religiosidade são da humanidade.

Os figurinos da premiada e talentérrima Karen Brusttolin ressaltam a revelação de Francisco: ele é o santo, mas é o homem sofrido, que percebe como a religião tem que se ligar ao outro, ao fazer pelo outro e isso inclui a natureza, os animais, o passado, o futuro e o presente. Entre dois Franciscos leva mais do que uma mensagem de fé em Deus, nos mostra que só o diálogo entre as oposições e o amor pelos outros nos salva. 

SERVIÇO

ENTRE FRANCISCOS, O SANTO E O PAPA

Casa de Cultura Laura Alvim (Av. Vieira Souto, 176 - Ipanema)

De 12/4 a 5/5, sextas e sábados (20h) e domingos (19h)

Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)

 

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