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Uma outra maneira de ver o Rio

'O Caminho de Volta' resgata a história da fundação da cidade do Rio de Janeiro sob a narrativa dos povos originários que viviam na região | Foto: Raynna/Divulgação

Com apresentações gratuitas, o espetáculo "O Caminho de Volta - A Outra História do Rio de Janeiro" vem sendo idealizado há seis anos, quando o diretor e ator Álamo Facó mergulha na pesquisa sobre sua ancestralidade e o início da cidade do Rio de Janeiro, desenterrando a versão não contada dessa história. Contemplado pelo Foca - Fomento da Cultura Carioca - com nota máxima, sendo classificado em primeiro lugar, o ato cênico está sendo apresentado no Parque do Flamengo.

Chegando de forma confortável em estacionamento gratuito do parque, junto ao restaurante Assador, o público é levado a se acomodar em esteiras e redes para mergulhar na história do nascimento dessa cidade, agora contada pela primeira vez por personagens indígenas, mamelucos e alguns franceses, que lutaram do lado de cá da baía e criaram a maior organização de combate à escravização indígena que já se teve notícia, a Confederação dos Tamoios, numa peça sobre o amor por essas terras e a luta pela liberdade.

Há seis anos, Facó mergulha em viagens em busca de sua ascendência, imergindo em vivências, lutas e manifestações. Quando o artista chega à história da Baía de Kuanapara do século XVI, algo lhe deixa em choque: há muitos detalhes desse território e período, enterrados num proposital esquecimento.

A história do início do Rio de Janeiro é contada pela primeira vez por esse lado de cá da baía, o da taba Karioka, da Paliçada de Uruçumirim, onde nasceu a maior organização de combate à escravização indígena que já se teve notícia. "O sentimento de disponibilidade para uma manifestação ancestral é enorme", pontua.

"Queremos tentar elucidar o povo carioca e seus visitantes sobre como devemos olhar para o passado e enxergar como essa história foi propositalmente distorcida. A escravização indígena é pouquíssimo falada em centros de discussões, em congressos, universidades e é detalhada em cartas e livros. E desejamos enaltecer o povo tupinambá e sua importância histórica e na cotemporaneidade", completa.

Uma história épica, de um povo enorme e presente em tudo que envolve a ideia de Brasil. Porém apagado intencionalmente. Dentro dessa perspectiva, Álamo entende que ao assistir a peça, o público terá a certeza de como as populações indígenas foram e são subjugadas e perseguidas na construção de um Brasil controverso. E acredita que o público sairá da experiência sendo capaz de contar essa história por essa nova e mais fiel versão dos fatos.

"Ainda há muito massacre, muito homicídio, muita morte, muito mercúrio no corpo de crianças. Mas é um momento onde vemos indígenas nas favelas, nos presídios, e vemos indígenas indicados ao Oscar, sendo chamados para falar na ONU, em conferências de lideranças mundiais e serem ouvidas por presidentes do mundo inteiro. Então, essa peça busca elucidar aqueles que não estão acompanhando esses fenômenos acontecerem e compreenderem o passado de forma mais coerente", afirma o diretor e autor.

Para a realização do espetáculo, o diretor convidou um coletivo de artistas anti-coloniais, de maioria indígena. Junto a eles, Álamo conta a história da taba Karioka, do período de paz e fartura à luta que segue até os dias de hoje. Ele faz um comparativo com o período e os tempos atuais.

"Muita coisa se manteve, a forma que a gente lida com as festas, a forma que a gente lida com os adornos de Carnaval. E a forma que a milícia armada invade territórios indígenas hoje, é bem parecida com os ataques dos pêros do século XVI. Muita coisa se manteve de lá para cá e a gente muitas vezes não liga uma coisa à outra. A peça colabora para que esses pontos se liguem", destaca.

SERVIÇO

O CAMINHO DE VOLTA - A OUTRA HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO

Parque do Flamengo - Altura da Rua Oswaldo Cruz (ponto de encontro: em frente ao Restaurante Assador)

Até 29/5, às terças e quartas (19h30)*

Entrada franca

*Em caso de chuva o evento não ocorrerá

 

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