Fortaleza é o lugar dos fortes. Normalmente em uma posição que possa vigiar as entradas para impedir e defender. Há os lagos com jacarés, grades, pontes elevadiças, grades, guardas. Mas como funciona a fortaleza afetiva? O conflito sobre esse conceito é a premissa de "Fortaleza", texto de José Pedro Peter que, sem qualquer firula, enfrenta o que é inexpugnável para muitos.
Um adulto insone. Um pai que vela o pesadelo do filho. Uma explosão de amor. Ao mesmo tempo, o filho é um reflexo de sua adolescência, o período que mistura o prazer do surgimento dos hormônios com as dores de todos as obrigações dos crescimentos. Peter constrói um texto direto ao ponto, o que nos prende na cadeira para ver até onde vai a narrativa.
A direção de Daniel Dias da Silva, com base numa ótima solução cenográfica, consegue agigantar a pequena arena onde se dá a montagem, favorecendo e iluminando a atuação de Peter e de Carlos Marinho que se movimentam entre a amizade fraterna, o bulliying do colégi, a relação com os pais, as descobertas do sexo e o choque do lugar para o qual a vida os levava.
Há a referência a "Beijo no Asfalto" que, ao transportar o que se passa no palco à cruel história de Nelson Rodrigues, torna o paralelismo bem realizado, pois "Fortaleza" não tem nada a cortar, nada sobrando, nenhum exagero. Nesse sentido, é a vida como ela é e acontece em torno de nós.
O espetáculo mostra os fatos correntes de uma adolescência em um mundo burguês tradicional e de como o comum existe para esconder e reprimir o que consideram incomum. Peter e Daniel são capazes de fugir de gritos, sobre atuações, mostrando que o bom espetáculo é a perfeita junção de texto, direção e atores.
SERVIÇO
FORTALEZA
Espaço Abu (Av. Nossa Sra. de Copacabana, 249 - loja E)
Até 1/4, aos sbados, domingos e segundas (20h)
Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)
