Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - CLAUSTROFOBIA: Quando não há saída

Márcio Vito se divide em três papéis em 'Claustrofobia' | Foto: Nil Caniné/Divulgação

Claustrofobia é medo do claustro. Claustro é o conjunto da galeria e do pátio ou parte do mosteiro. Mosteiro é a residência reclusa. Pois é, apesar que a definição corrente seja que claustrofobia seja medo de ficar trancado em um ambiente pequeno, podemos pensar na metáfora do seu sentido. Um pavor de se ver em uma situação da qual não se pode sair. "Claustrofobia", o solo escrito por Rogerio Correa, com Marcio Vito, transforma o medo nos maiores pavores da contemporaneidade.

Com a direção milimétrica de Cesar Augusto, Marcio Vito interpreta três personagens. Um ascensorista-imigrante-nordestino, a jovem executiva-bem vestida-pilhadinha e o porteiro contador devantagens, com sonhos de ser policial, a promessa mentirosa de um víés do Brasil atual.

Na voz e no corpo de Márcio, os personagens ganham corpo, voz, personalidade, contornos de conflitos em diálogos totalmente esquizofrênicos porque, mesmo com a presença de interlocutores, a pessoa fala para si mesma, na solidão do celular. O porteiro se sente um policial, seu sonho; a executiva sê vê com mais poder do que tem; o ascensorista têm lembranças. A cenografia de Cesar Augusto e Beli Araújo simula um elevador, um cubo sem paredes, imerso na negritude do palco, uma enorme instalação evidencia que as artes do palco vão além de um ator que fala um texto digna de ser vista em um ambiente de arena. "Claustrofobia" indica que o ator é um performancer o que permite que o humor mordaz, daquele típico dos ingleses, posto que o autor se divide entre Inglaterra e Brasil.

Cesar, Rogerio e Marcio Vito transformam em dois níveis a peça. Os personagens ao mesmo tempo apresentam aquilo que é triste no humano e insuportável em nossa atual sociedade: a invisibilidade do sujeito e da alma; a ambição do capitalismo e a cretinice do comportamento e o sonho inalcançável de crescer, mas enquadrando no que há de pior: a repressão autorizada. E estamos todos, sem escolha, encerrados, sem saída, em algum elevador.

SERVIÇO

CLAUSTROFOBIA

CCBB - Teatro 3 (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)

Até 14/4, de quinta a sábado (19h) e domingo (18h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)

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