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Quando se é uma e, ao mesmo tempo, várias

Vilma Melo em 'Mãe de Santo', espetáculo que rendeu à atriz indicações aos prêmios APTR 2022 e Shell 2023 como melhor atriz | Foto: Valmyr Ferreira/Divulgação

Baseado em textos e relatos da filósofa, Helena Theodoro, que reflete e celebra sobre o papel fundamental e sagrado da mulher negra, o espetáculo "Mãe de Santo" retorna aos palcos do Rio e Niterói. Na capital, o monólogo, com Vilma Melo, será encenado em duas sessões a gratuitas nesta quarta-feira (13), às 17h30 e às 19h30, no Teatro Café Pequeno, no Leblon. Em abril, o espetáculo realiza única apresentação no dia 26, às 20h, no Teatro da UFF.

Ressignificar e enaltecer o poder da mulher preta na condução de suas comunidades é o grande mote do espetáculo dirigido por Luiz Antônio Pilar e protagonizado pela primeira atriz negra a vencer o Prêmio Shell (2017). Em cena, Wilma interpreta uma e, ao mesmo tempo, várias mulheres pretas.

O texto de Renata Mizrahi traz um posicionamento firme e de orgulho das histórias contadas e passadas por gerações e documentando como as mulheres afro-brasileiras. São diálogos, corpos sagrados e que utilizam o homem como complemento de suas narrativas e vivências. "'Mãe de Santo' representa pra mim as mil possibilidades da mulher preta, que dá asas à imaginação, mostrando musicalidade, poesia, espiritualidade, habilidade e maternidade desde muito tempo. Ser mãe de santo é ser mãe do mundo, cuidando de gente de ontem - seus ancestrais - ou de hoje - sua família, amigos, parceiros -, preservando o mundo para um amanhã mais pleno, transformado pelo elo de afeto entre as pessoas, pela arte e por toda a beleza que um olhar doce e meigo pode oferecer. Mãe de santo é mulher que se orgulha de suas histórias e identidades, entendendo que nada é mais profundo do que a pele preta que traz em seu corpo e ilumina sua alma", afirma a escritora Helena Theodoro cujas reflexões inspiraram a criação do espetáculo.

Para além do arquétipo, das vestimentas e acessórios característicos da religião de matriz africana, "Mãe de Santo" mostra que essas mulheres também vivenciam o particular - carregam tristezas, perdas, felicidades, medos, angústias e papéis importantes na sociedade. Apesar de estereotipadas, essas figuras religiosas são plurais e, muitas vezes, não recebem o acolhimento de que necessitam. Mas, mesmo assim, ressignificam suas histórias em prol do viver individual e do coletivo existentes nas comunidades que lideram.

"As mães podem ser vistas como depósitos para desenvolvimento de outros seres. Elas geram, criam e educam com o intuito de integrar a sociedade. Na mão da materialidade, a mulher é cabaça, que contém e é contida por representar a vida. A ancestralidade dessas mulheres pretas empodera o cotidiano, os estudos, a família, a carreira profissional, a posição social, e ainda fortalece o enfrentamento do racismo diário", destaca Vilma Melo, indicada aos prêmios APTR 2022 e Shell 2023 na categoria "Melhor Atriz" por seu trabalho nesta montagem.

SERVIÇO

MÃE DE SANTO

Teatro Café Pequeno (Av. Ataulfo de Paiva, 269 - Leblon)

13/4, às 17h30 e 19h30

Grátis

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