Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Othon Bastos e o teatro que não se entrega

Patrimônio vivo da nossa arte cênica, Othon Bastos participa de leitura dramática de texto que narra sua brilhante trajetória | Foto: Jair Magri/Divulgação

A emblemática atuação de Othon Bastos em "Deus e Diabo na Terra do Sol" (1964), longa semninal de Glauber Rocha (1939-1981), encerra com a canção de Sérgio música tocando em off: "Se entrega Corisco / Eu não me entrego não, / Eu não sou passarinho, / Para viver só na prisão". A composição e o longa sinalizavam a resistência com a qual a então nascente ditadura militar teria que lidar nos anos seguintes.

São os episódios da vida de resistências de Othon que serão contadas, com texto e direção de Flávio Marinho, em "Eu Não Me Entrego Não" na quarta edição da série Dramaturgia em Leituras, programa criado pelo Instituto Evoé para abrir espaço de incentivo à arte e à cultura.

A leitura terá como intérprete o eterno Corisco que, dos seus 90 anos de vida, 71 foram dedicados à arte da encenação. Ele estará em cena emocionado e divertindo o público, contando histórias divertidas e dramáticas da sua vida pessoal e profissional. A entrada é franca e os ingressos podem ser retirados no guichê da Sympla no dia do espetáculo duas horas antes do início.

O esqueleto dramático da peça são os episódios, mas estão as diversas reflexões, frutos imediatos do tema abordado por Othon. Por exemplo, depois que ele encontra o amor da vida, com quem está casado há 57 anos, o texto passa a refletir o sentimento do amor através de diversas referências e citações. A mesma coisa depois que Othon menciona um fato político: a peça envereda por historietas e pequenas pensatas políticas - e assim por diante.

O diretor e autor Flavio Marinho falou com exclusividade ao Correio da Manhã sobre o seu processo autoral. "O mais importante de uma leitura é que se testa a peça. Avaliamos se o texto tem gordura, sente a reação do publico, saca os altos e baixos. Além de servir como um pré-lancamento do espetáculo", resume.

Questionado sobre sua escolha por Othon Bastos, Marinho reage. "Eu não escolhi o Othon. Fui escolhido por ele. Chique, né? Ele me fez a proposta é eu não sou nem louco de dizer 'não' para o maior ator brasileiro vivo".

Marinho ressalta seu gosto e interesse por biografias, uma marca registrada de sua trajetória como encenador. "Gosto de mexer com a estrutura das biografias. No 'Judy' (musical sobre a atriz e cantora Judy Garland), eu misturava as vidas da Luciana Braga (protagonista da montagem) e da Judy Garland. Em 'Não me entrego não!', eu misturo reflexões sobre temas importantes com flashes da vida do Othon", detalha o diretor.

SERVIÇO

EU NÃO ME ENTREGO NÃO!

Teatro Adolfo Bloch (Rua do Russel, 803 - Glória)

4/3, ás 20h | Entrada franca

 

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