Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Nelson Rodrigues, criador do teatro brasileiro

Nelson Rodrigues leva o Brasil para dentro da dramaturgia produzida no país | Foto: Reprodução

 

Houve um tempo que o teatro brasileiro podia ser considerado português. As palavras, o sotaque, as tramas, os espetáculos reproduziam o que tinha sido dominante no século 19. Nelson Rodrigues, sob o signo da palavra inquietante, considerada por ele próprio como um teatro desagradável, coloca enfim aquele Brasil que se urbanizava, que chegava, ainda que de forma canhestra, ao capitalismo e seus conflitos de classe e de alma.

Nelson Rodrigues (1912-1980) tecerá uma obra dramática a partir da apresentação dos temas do incesto, da violência, do sadismo, do masoquismo, do amor e da morte, da moral feminina/masculina, perante um público burguês escandalizado, um espelho não só das mazelas das almas, como também, cirurgiões precisos dilaceram os abcessos da moral burguesa dos meados do Século XX.

Agora tem-se dois Nelsons, em montagens totalmente diversas de textos marcantes em sua dramaturgia: "Vestido de Noiva" inaugura a chamada fase mítica, o surgimento do autor, com histórias passadas em determinação de tempo ou lugar; e "A Falecida" é considerada a primeira das tragédias cariocas. Coloca as pessoas das ruas, seu linguajar, seu modo de vida, a mediocridade, a humilhação, o ataque frontal às pessoas da elite, a pobreza de alma e de bolso.

"A Falecida" completou 70 anos em 2023 com nova montagem dirigida e idealizada por Sergio Módena e protagonizada por Camila Morgado, que voltou ao teatro depois de um hiato de 11 anos distante dos palcos. O espetáculo recebeu cinco indicações ao Prêmio FITA 2023, recebendo os prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante (Stela Freitas) e Melhor Espetáculo - Juri Popular.

"Eu e Camila somos apaixonados por esse texto e pelo legado de Nelson Rodrigues. E ela é uma atriz "rodrigueana" por excelência, assim como o Thelmo Fernandes. Esta montagem marca a minha primeira direção de uma obra do Nelson. Estamos criando uma encenação atemporal para a peça, que, originalmente, foi escrita em 1953 e se passa no subúrbio do Rio de Janeiro. Mas Nelson vai além da crônica carioca. Ele radiografa a miséria da alma humana, presente nos mais diversos lugares e épocas", comenta o diretor sobre a idealização do projeto", diz Sergio Módena.

Um dos grandes clássicos de Nelson, que revolucionou a cena teatral brasileira, chega ao palco em versão de musical. "Vestido de Noiva - O Musical", produzido pelo CEFTEM, conta com direção de Rafaela Amado e faz temporada no Teatro Cesgranrio. No elenco, quatro atrizes se revezam fazendo as personagens principais, Ísis Lua e Bruna Goelzer vivem Alaíde; Valentina Schmidt e Yara Pontes vivem a Mulher de Véu. Além delas, os atores Anderson Rosa e Vini Duarte se revezam na personagem Madame Clessi.

"Sempre fui uma apaixonada por Nelson, e ter a oportunidade de dirigir esta peça é fantástica. Em 1943, na data da estreia, esta obra revolucionou o teatro em sua capacidade técnica com cenários, iluminação, sobreposição de cenas, os 3 planos simultâneos..... 80 anos depois, com todos os recursos que temos hoje, a peça continua desafiadora e moderna, para direção, para os atores e para o público. Tenho um motivo ainda mais particular para estar muito feliz com esta direção: é que minha mãe, Camilla Amado, interpretou Alaíde, a protagonista, em 1973 na remontagem comemorativa de 30 anos da estreia original de 1943, com direção do próprio Ziembinski. Então é uma dupla honra e desafio", afirma Rafaela, ao comentar sua opção em levar essa obra ao palco em outra linguagem teatral.

SERVIÇO

VESTIDO DE NOIVA - O MUSICAL

Teatro Cesgranrio (Rua Santa Alexandrina, 1011 - Rio Comprido)

até 3/3, de quinta a domingos

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)

A FALECIDA

Teatro Copacabana Palace (Avenida Nossa Sra. de Copacabana, 261)

De 23/2 a 7/4, às sextas e sábados (21h) e domingos (20h)

Ingressos: R$ 160 e R$ 80 (meia)

 

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