Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TESTRO - INTIMIDADE INDECENTE: Sem aborrecimentos e com filhos.

Marcos Caruso e Eliane Giardini em estado de química avassaladora | Foto: Eduardo Chamon/Divulgação

Jânio Quadros dizia que intimidade só traz duas coisas: aborrecimentos e filhos. E o que mais as pessoas desejam: aquela intimidade gostosa de papear, se abrir, falar o que der na cabeça, explodir, brigar, amar, implicar e ter alguém que não é uma experiência narcísica, mas uma troca de gozo. "Intimidade Indecente", escrita em 2002 por Leilah Assumpção e dirigida por Guilherme Leme Garcia é um momento raro, inclusive em sua contemporaneidade.

Apesar de ser aparentemente sobre sexo em pessoas com mais de 60 anos, a peça provoca pequenos prazeres até grandiosas emoções. Com dois "monstros" do teatro em cena, Eliane Giardinni e Marcos Caruso, em uma química avassaladora que, em blocos, nos permite, sem alteração de cenários ou figurinos, ir fazendo a sua jornada pela última parte da vida.

Esse é o grande mérito do texto: compor em diálogos rápidos, cortantes. Os atores encerrados na quarta parede, pois o papel da plateia é se deleitar e se identificar. Teatro na veia com direito à catarse.

A direção alcança duas regras básicas e clássicas da dramaturgia: a unidade de lugar e a verossimilhança. Em um texto que as palavras são as mais cotidianas, gírias, palavrões, afetos, mordacidades, a direção ressalta cada vírgula, como um cinzel que pega um bloco de mármore do melhor e mais perfeito - o casal de artistas - e faz de suas atuações um momento ímpar nesse século 21.

O foco no sexo na terceira idade, esse é apenas a ponta do iceberg. O que se fala é do princípio do prazer em todas as suas latitudes: desde o prazer de pequenas delícias- como acontece na cena do doce de leite -, até como superar a enorme mágoa do abandono dos descendentes.

Como se fala de prazer e gozo, Caruso e Eliane se transformam em seres vivos, lutadores incansáveis, caçadores de orgasmos de todos os tipos e dimensões sem qualquer pudor e muito menos decência, decoro. Mas sempre recíprocos.


SERVIÇO

INTIMIDADE INDECENTE

Teatro Riachuelo (Rua do Passeio, 40, Centro) | Até 25/2, sábado (20h) e domingo (18h) | Ingressos entre R$ 19,50 (meia) e R$ 120

 

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