Por: Cláudia Chaves - Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / AS ARTIMANHAS DE MOLIÉRE | O bommalandro

Uma trama ao estilo do autor francês | Foto: João Salamonde/Divulgação

Existe um humor mordaz, que toca no ponto certo como um ferrinho de dentista. Aquele que não deixa pedra sobre pedra. Existem os personagens mágicos que, desde a commedia dell'arte, são encarnados no criado, no duplo, naquele que parece ingênuo, mas não o é. Muito pelo contrário. Essa é a base de construção dos personagens de Molière.

"As artimanhas de Molière" traz uma trama que, bem ao estilo do autor francês, aponta o dedo e desmascara os falsos sábios, a avareza dos burgueses, as mentiras dos médicos ignorantes e outros comportamentos sociais nada lisonjeiros.

Com direção de Márcio Trigo, adaptação de Fernanda Celleghin e interpretação de Luiz Machado, o monólogo reúne em uma só história quatro protagonistas de comédias escritas por Molière: Alceste, de "O Misantropo", Esganarello, de "O Médico à Força", Don Juan e Tartufo, das peças homônimas.

O primeiro mérito é o monólogo feito de recortes que transforma a colcha de retalhos em um manto real. As tramas se transformam em uma só com um fio condutor que está apoiado na atuação de Luiz Machado. Transformando-se, indo à frente, mudando o corpo e a voz para criar, sem qualquer outra presença em cena, diálogos como se outros personagens ali estivessem. Esse dinamismo faz com que o texto flua e se perceba, com clareza, as intenções de Molière.

Em um cenário em que a mesa de trabalho, as folhas manuscritas formando um imenso varal, a pequena luz, que Luiz/personagem de Moliére, acende e anda pela pequena arena, como se aquele pequeno facho seja capaz de iluminar o que se passa.

A direção faz com que Luiz, de porte maior, se mova com multíssima agilidade, sem que se perca uma sílaba dos textos de Molière. O figurino, com uma forte aproximação de época, não impede que vejamos o mais importante: um grande ator apresentando um grande texto, não há época. Só há presente. 

SERVIÇO

AS ARTIMANHAS DE MOLIÉRE

Casa de Cultura Laura Alvim (Av Vieira Souto, 176 - Ipanema)

Até 3/12, às sextas e sábados (19h) e domingo (18h)

Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)

 

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