Por: Cláudia Chaves (Especial para o Correio da Manhã)

CRÍTICA / TEATRO / PULMÕES: O ar que eu respiro

Giulia e Thiago: interpretação sólida e verossímil | Foto: João Julio Mello/Divulgação

 

Duncan Macmillan, o premiado diretor e dramaturgo inglês, tem como objetivo examinar assuntos que nos preocupam cotidianamente como parentalidade, depressão, mudanças climáticas de uma forma capaz de dizer algo ainda não dito. Estreando no Brasil, sua peça "Pulmões" traz, em uma narrativa aristotélica (começo, meio e fim) a história de vida de um casal, que se inicia com a discussão sobre ter ou não ter filhos. Nada tão contemporâneo.

A primeira coisa que logo nos aparece é que o caso não é nomeado nem com apelidos íntimos. E sem nome pode ser qualquer um, inclusive nós. São parceiros ora românticos, ora companheiros, ora odientos, com atos de enorme paixão, brigas homéricas ou apenas aquele rame-rame de longa data.

O projeto foi idealizado pelos atores Giulia Grandis e Thiago Mello, casados desde 2019 e juntos há 11 anos, que tem uma interpretação sólida que dá veracidade ao que se vê.

Os diálogos são excelentes, pois transformam em dramaturgia palavras sem qualquer poesia, inteligência, sofisticação... exatamente como se fala numa relação cotidiana. Nada de discursos, citações. Apenas manifestações abertas, espontâneas, divertidas, tristes, cruéis, amorosas. O autor escolhe, e acerta, por trilhar o caminho mais difícil: levar ao palco a fala sem graça do dia-a-dia.

A ótima diretora Miwa Yanagizawa atua como um regente que sabe imprimir o ritmo certo: intenso, rápido, lento, tonitruante, suave, o que ressalta a atuação de Giulia e Thiago, lhes colocando em todos os lugares do palco, com uma mobilidade rara. Além disso, o cenário de Teresa Abreu traz projeções de slides com imagens de festividades de famílias e plaquinhas, de diferentes tamanhos com o nome do local da ação. A trilha sonora original nos assegura que assistir "Pulmões" é respirar do modo certo.

SERVIÇO

PULMÕES

Teatro Ipanema (Rua Prudente de Morais, 824)

Até 29/10, às sextas e sábados (20h) e domingos (19h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)