Por: Cláudia Chaves (Especial para o Correio da Manhã)

ENTREVISTA / MAURÍCIO TIZUMBA: 'Me chamavam pratocar, cantar, dançar, declamar, me pagavam e eu ia'

Maurício Tizumba | Foto: Divulgação

"Viva o Povo Brasileiro" é um musical que representa toda a cultura brasileira. Considerado uma das principais obras do escritor João Ubaldo Ribeiro, que recebeu o Prêmio Camões e também o Jabuti. O livro ganha inédita versão musical para o teatro, produzida pela competente e inventiva Sarau Cultura Brasileira de Andrea Alves, de Anacom o título de "Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé)".

Com 30 músicas originais de Chico César, com letras inspiradas e/ou utilizando parte textual da obra; direção musical e trilha original de João Milet Meirelles (da banda BaianaSystem), a pesquisa para a montagem teve início na investigação de doutorado feita na Universidade de Lisboa, pelo diretor André Paes Leme

Impecável, comovente, apaixonante tem um conjunto de artistas raros de se ver. Dançam, cantam e representam de tal modo que o espetáculo flui muito bem. Entre Alexandre Dantas, Guilherme Borges, Hugo Germano, Izak Dahora, Jackson Costa, Ju Colombo, Júlia Tizumba, Luciane Dom, Maurício Tizumba e Sara Hana foi Maurício quem nos falou com exclusividade.

Maurício Tizumba é um instrumentista, cantor, compositor, ator e empreendedor cultural brasileiro nascido em Minas Gerais, com carreira artística estabelecida desde 1973, totalmente comprometido com os valores da cultura popular brasileira. E aqui temos o enorme privilégio de ver Tizumba atuando. Um vigor, uma atuação e um compromisso que torna imperdível assistir a tudo o que ele faz.

Quais são maiores influências?

Maurício Tizumba - Então, eu sou da cultura popular, lidando com as manifestações de reinado, de congado, com as manifestações de matriz africana, como candomblé e umbanda. No meu caso de ser múltiplo, tem um ditado: a necessidade faz o sapo pular. Quando eu ainda muito jovem, lá com meus 15 anos, iniciei minha carreira de 50 anos, quando consegui a minha carteira da ordem dos músicos. Me chamavam pra tocar, cantar, dançar, declamar, me pagavam e eu ia. Até que vi que se eu não inventasse as minhas próprias coisas, a minha história parava e hoje, graças a Deus, passei a fazer parte do elenco de "Vivo Povo Brasileiro". Sempre mexi com o teatro, desde sempre. Eu gosto de fazer teatro também, eu gosto de ópera fiz "Pedro e o Lobo" no Municipal. A minha capacidade de ser essas coisas todas é mesmo de sobrevivência e eu demais da arte e cultura popular. Hoje, da cultura popular, eu consigo passar por ópera, consigo passar por operetas. E a minha maior influência, volto a dizer, que está na cultura popular mesmo, porque nela eu aprendi muita coisa. Trabalhando 50 anos de carreira a negritude, com a cultura negra nesse país, conheço a história de um Benjamim de Oliveira, de Grande Otelo, um grande cantor como Monsueto. A minha história mesmo começa mesmo lá nas irmandades do povo preto-congadeiro, a minha influência está ali, onde eu toco, canto, danço e essa forma de tocar, cantar e dançar é a forma do povo de matriz africana. Então a gente já faz o espetáculo.

Como um criador inventivo e muitíssimo talentoso trabalha em uma super-produção?

Venho trabalhando com essas superproduções já há um bom tempo, porque minha companhia Burlantins a gente começou coisas pequenas. Temos um espetáculo grande para teatros grandes, chamado Herança, com direção de Grace Passô, Sérgio Pereira e Júlia Tizumba, minha filha. São as histórias da nossa própria história mesmo que começa lá em Camarões. Chego aos 65 anos com 35 espetáculos, acredito que ainda, agora em outubro eu começo a ensaiar mais um, desses es só 4 não foram musicais. Ganhei um grande prêmio no Rio de Janeiro, com o Jumento dos "Saltimbancos". Feliz demais por estar fazendo esse trabalho com a direção do André Paes Lemes com quem fiz Grande Otelo, Eita moleque bamba, com Flávio Baurach e Vilma Melo. André é um diretor totalmente na contramão desse universo, do que é dirigir, assim, ele é um camarada muito da sensibilidade e que entende a vida da gente, que trabalha por esse mundão aí, atuando.

 

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