O berço do realismo psicológico machadiano
"Brás Cubas" estreia no CCBB em montagem inédita da Armazém Companhia de Teatro
Nesta quarta-feira (23), o Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro recebe a estreia nacional do novo espetáculo da Armazém Companhia de Teatro, "Brás Cubas", versão cênica de Paulo de Moraes para a obra-prima de Machado de Assis, que traz o Bruxo do Cosme Velho para o centro da cena, como personagem.
Com dramaturgia de Maurício Arruda Mendonça, a nova montagem da Armazém tem elenco formado por Bruno Lourenço, Isabel Pacheco, Jopa Moraes, Felipe Bustamante, Lorena Lima e Sérgio Machado, iluminação de Maneco Quinderé, cenografia de Carla Berri e Paulo de Moraes, figurinos de Carol Lobato, direção musical de Ricco Vianna, direção de produção de Patrícia Selonk e Bruno Mariozz.
A temporada no CCBB Rio de Janeiro vai até 1º de outubro, de quarta à sábado às 19h e domingos às 18h. Com patrocínio do Banco do Brasil, o espetáculo é uma realização do Centro Cultural Banco do Brasil dando continuidade a celebração dos 35 anos de formação da Armazém.
Foi a partir da 1881, com "Memórias Póstumas de Brás Cubas", seguido por "Quincas Borba", "Dom Casmurro", "Esaú e Jacó" e "Memorial Aires" que Machado de Assis começou a desenvolver seu extraordinário realismo psicológico, permeando seus romances com impetuoso sarcasmo.
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" é considerado um romance original desde a sua dedicatória "ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver" e prossegue na ideia de um defunto autor que, para fugir ao tédio do túmulo, escreve suas memórias.
"Brás Cubas é um dos personagens mais icônicos da literatura brasileira. Tratar de um personagem pretensioso e prepotente, um recordista de fracassos, que têm uma aversão por si mesmo absolutamente merecida - e que nos fala tanto sobre a formação da elite brasileira -, era muito sedutor. Mas traduzir a experimentação formal de Machado para o palco - conversando com o público de hoje - me parecia desafiador. Porque Machado escreve com um nível de sutileza raro. Então, com certeza o nosso grande embate durante a descoberta da peça tem sido como fazer com que essa literatura sutil se transforme numa ação dramática contundente", comenta o diretor Paulo de Moraes.
A dramaturgia de "Brás Cubas", assinada por Maurício Arruda Mendonça, é uma adaptação do romance de Machado de Assis, mas não uma adaptação no sentido clássico porque insere o próprio autor na peça, como personagem. "O espetáculo tem uma certa vinculação com o sonho. A gente constrói essa história como se estivéssemos dentro da casa do Machado, acompanhando a sua criação. E o ponto central da nossa adaptação é o delírio que o personagem do Brás tem momentos antes de sua morte", destaca Moraes.
A peça da Armazém desmembra o personagem Brás Cubas em dois. Sérgio Machado interpreta Brás Cubas desde seu nascimento até sua morte (não necessariamente nessa ordem) e Jopa Moraes assume Brás Cubas já como o defunto que narra suas memórias póstumas. "Esse defunto está pouco vinculado ao século 19, quer e precisa se comunicar com as pessoas de agora", explica o diretor.
A dramaturgia tem uma estrutura em três planos: o plano da memória - que são as cenas vividas por Brás; o plano da narrativa - onde entram as divagações e reflexões do defunto; e um terceiro plano em que o próprio Machado de Assis (vivido por Bruno Lourenço) invade sua narrativa com comentários que visam conectar contemporaneamente suas críticas à sociedade brasileira. "Nosso Machado não é um personagem biográfico. Embora todas as questões que o personagem coloque na peça tratem de assuntos sobre os quais Machado escreveu, estão colocadas em contextos diferentes. É uma brincadeira a partir de detalhes biográficos. Um personagem imaginário tentando se comunicar com o nosso tempo.", conclui o diretor.
Em outubro, a Armazém apresenta "Brás Cubas" durante o Wuhzen International Theatre Festival, em Zhejiang, na China.
SERVIÇO
BRÁS CUBAS
Centro Cultural Banco do Brasil - Teatro II (Rua Primeiro de Março, 66, Centro)
De 23/8 a 1/10, de quarta a sábado (19h) e domingo (18h).
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)
