Por Cláudia Chaves
Especial para o Correio da Manhã
Vai-se ao teatro, normalmente, para se encontrar atores, uma historia linear e, no caso de comédias, dar-se gargalhas. Uma vez ou outra, temos uma grata surpresa. Grandes atuações, direção criativa, texto que nos faz pensar. Em "Gargalhada Selvagem", o pacote é completo.
Com uma dramaturgia elaborada, que nos lembra de algum gênero que já vivemos, mas que se transforma em outra coisa, em tudo é como se o autor tivesse tirando um coelho da cartola.
A peça, apesar da duração de 80 minutos, estrutura-se em três atos: dois monólogos e uma terceira parte na qual a introdução de um terceiro que funciona como uma "escada" (o personagem que apoia a piada), um tertius que desequilibra a balança. O autor americano é um novaiorquino , baby-boomer clássico. Christopher Durang estudou teatro em Harvard e em Yale e alcança seu ponto maior nos anos 80, quando se apropria de um humor ácido, das sombras dos ambientes da cidade, algo que é visto na série Pose, em um mistura e manda do teatro do absurdo, com exageros em todas as pontas: personagens, interpretação, texto e figurinos.
A direção de Guilherme Weber é uma faca, um cinzel que vai dissecando e ao mesmo tempo retirando todo e qualquer essência, para se ter uma escultura, limpa, clara. A opção é pela estética do over, necessário para que o nonsense que circunda o texto, fique profundo nesse aspecto. Os gestos, os gritos, a movimentação,a caracterização se encaixam de forma harmoniosa que só contribuiu ao enorme prazer da fruição.
A dupla de atores - Rodrigo Fagundes e Alexandra Richter - são duas estrelas da comédia e são muitíssimos bem apoiados por Joel Vieira. Rodrigo e Alexandra fazem de maneira competente todos os momentos que lhes são exigidos: monólogo, diálogo e no "trisal", despertando gargalhadas, sorrisos, olhares surpresos, fazendo jus à rapidez do texto. A crítica avassaladora a tudo: religião, comida, família, até mesmo à expressão "petit mort" (orgasmo em francês que os mais pernóstico se utilizam) para mostrar que o desencontro, mesmo quando aparente encontro, é nosso infalíves destino. Fato do qual só nos resta rir selvagemente.
SERVIÇO
GARGALHADA SELVAGEM
Teatro XP Investimentos (Av. Bartolomeu Mitre, 1110
Jockey Club Brasileiro - Gávea)
Até 30/7, às sextas e sábados (20h) e domingos* (19h)
Ingressos: Plateia (R$ 100) e R$ 50 (meia). Preço promocional - R$ 50 e R$ 25 (meia)
*As sessões aos domingos contam com intérprete de Libras