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Uma mulher em forma de poesia

Em cartaz nos palcos cariocas, a atriz Elisa Lucinda revê sua carreira em papo com o Correio | Foto: Patricia Lino/Divulgação

Por Cláudia Chaves

Especial para o Correio da Manhã

Comemorando 20 anos em cartaz e lançando uma nova edição do livro "Parem de Falar Mal da Rotina", o espetáculo de mesmo nome une histórias vividas e ouvidas por Elisa Lucinda, como boa observadora do cotidiano, além dos poemas retirados de seus livros, como "O Semelhante" e "Eu te amo e suas estréias".

O resultado são pouco mais de duas horas de elogios à rotina entre personagens diversos, nos obrigando a observarmo-nos de fora, e nos ajudando a perceber que "a rotina" é algo fictício que criamos. A conclusão é que nós temos o poder da mudança, nós somos os diretores, atores e produtores das nossas próprias vidas.

Lucinda falou com exclusividade ao Correio da Manhã. Ela revela como resolveu ser atriz, faz um balanço de sua carreira e fala sobre Marlene, sua personagem que vem fazendo sucesso na novela "Vai na Fé" (Globo).

Momento de Decisão

Desce criança sempre escrevi, declamava, entrei para o teatro universitário, era jornalista. Um dia entrevistando Elba Ramalho, pensei: Não quero dar a notícia, quero ser notícia. Vim para o Rio estudar na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras). E como sempre tive poesias, fui ao Varal de Poesia na praia. Comecei pelos meus poemas, foi um sucesso. Juntou gente e um dono de bar me chamou. A poesia começou a gritar poesia, as pessoas começaram a querer me ver falar poesia. Andei pelo Brasil dizendo poesia, tendo que cobrar. Que eu nem sabia que podia. Foi uma delícia chegar nessa cidade do Rio. Eu queria fazer uma vida moderna, uma ação crítica de produzir a reflexão. Hoje tenho 20 livros publicados. Toquei a carreira de escritora, de atriz e a de jornalista na minha página com meus artigos como jornalista de opinião, nunca deixei de fazer jornalismo.

A carreira de atriz

Começaram a me chamar para filmes, peças com Domingos de Oliveira , falando da causa da liberdade, Nelson Dantas, Zezé Mota, Antonio Pompeu. E conheci Pitanga, Martinho da Vila, os ativistas antirracistas, o movimento.Fiz ainda Vida de Noel Rosa com Pedro Cardoso. Com Zezé Polessa, tive a minha epifania. Quando falei para procurarmos uma peça, ela me disse: Você roteiriza tudo, dirige. Aí comecei a fazer meus solos.

carreira premiada

Eu gosto do desenho da minha vida, preservando minha liberdade, não negociando minha liberdade, não aceitando propinas, não vendendo meu pensamento em forma de comercio. Essa é minha limusine. Ganhei o Premio pelo conjunto da obra em no Festival de Gramado. Me sinto em um momento muito fértil.

A Casa Poema

Desde 1998, criamos a Casa Poema com Geovana Pires, uma ONG que desenvolveu vários trabalhos com a OIT, com a Unicef, Ministério Público do Trabalho com foco na socio-educação, inclusão com a poesia nos presídios, nos quilombos, nos bolsões de miséria, nas cidades onde os jovens ficam perdidos porque não podem entrar no mercado. Mas não sabem falar. Quem não saber falar não levanta a cabeça.

Marlene

É ótimo fazer personagem diferente, que não procuro fora. Conversei com pessoas, evangélicas, com a família Soares, gentil. Educadíssima, Eu me nutri muito deles, eu trabalho de dentro para fora. Penso como eu seria se fosse evangélica. E o que me faz ser crível na minha ideia de atriz. Eu que achei que o cabelo deveria ser liso e fiquei com esse figurino. Marlene é uma matriarca, totalmente diferente de mim, é moralista, crente. Temos uma coisa em comum o amor. Marlene representa muitas mulheres brasileiras solo: viúvas, abandonadas.

SERVIÇO

PAREM DE FALAR MAL DA ROTINA

Sala Baden Powell (Av. Nossa Sra. de Copacabana, 360)

Até 16/4, sexta, sábado e domingo (20h)

Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)