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Rugidos anunciados

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Com exceção do luso-brasileiro Sergio Tréfaut, que participa da mostra Orizzonti com um filme de produção portuguesa chamado "A Noiva", a presença do cinema nacional no 79º Festival de Veneza (31 de agosto a 10 de setembro) não inclui títulos na competição oficial, mas a América do Sul emplacou um título inédito com Ricardo Darín na competição pelo Leão de Ouro de 2022: "Argentina, 1985".

Um dos longas-metragens latinos mais esperados do ano, o drama jurídico dirigido por Santiago Mitre recria a luta de juristas para levar os generais por trás da tortura, na ditadura argentina, à Justiça. Mitre, realizador de "A Cordilheira" (2017), disputa o prêmio com vozes autorais consagradas, entre elas o iraniano Jafar Panahi (de "Táxi Teerã"), que teve prisão decretada pelo regime político de seu país. Ele concorre com "No Bears", que foi rodado na clandestinidade.

Vale destacar ainda que o nonagenário Frederick Wiseman, o mais aclamado documentarista americano, vai comemorar seus 55 anos de carreira brigando pelo Leão dourado com "Un Couple". É uma produção rodada na França, por ele pela atriz Nathalie Boutefeu.

"A seleção de Veneza é uma janela aberta ao mundo", disse o diretor artístico de Veneza, o crítico Alberto Barbera, que escalou a comédia "White Noise", de Noah Baumbach, com Greta Gerwig e Adam Driver, como filme de abertura.

Integram o páreo deste ano cineastas com longa carreira como Gianni Amelio ("As Chaves de Casa"), que regressa ao certame veneziano com "Il Signore Delle Formiche". E há medalhões com dois Oscars de Melhor Direção no currículo regressando ao Lido atrás de troféus, como é o caso do cineasta mexicano de Alejandro González Iñárritu. O realizador de "O Regresso" (2015) e de "Birdman" (2014), volta aos holofotes com "Bardo, Falsas Crónicas de Unas Cuantas Verdades", o primeiro longa dele a ser realizado no México depois do cult "Amores Brutos" (2000), tendo Daniel Giménez Cacho como seu protagonista. É uma produção feita pra Netflix, assim como "Blonde", de Andrew Dominik, que confia à atriz Ana de Armas a tarefa de recriar a trajetória conturbada de Marilyn Monroe (1926-1962).

Especula-se que um possível prêmio de Melhor Interpretação Masculina possa sair do drama "The Whale", de Darren Aronofsky, que regressa à Veneza cinco anos depois de ter sido vaiado por lá com "Mãe!". Seu novo longa dá a Brendan Fraser (de "A Múmia") o que pode ser "o" papel de sua carreira, na pele de um professor de literatura com obesidade mórbida às voltas com uma reconciliação com a filha. Mas Frase tem Darín pela frente. E Hugh Jackman, que estrela "The Son", de Florian Zeller, o realizador de "Meu Pai", que oscarizou Anthony Hopkins em 2021. E cogita-se que um prêmio da Interpretação Feminina possa contemplar Cate Blanchet por seu desempenho no papel de uma regente de orquestra em "Tár", de Todd Field.

Nas mostras paralelas, Veneza promete surpreender o planisfério cinéfilo com um Oliver Stone zero KM, o .doc "Nuclear", e com a volta do aclamado Walter Hill (de "Ruas de Fogo") ao Velho Oeste, em "The Hanging Sun", com Christoph Waltz e Willem Dafoe. Serão exibidas em sessão hors-concours duas séries escandinavas pilotadas por polêmicos cineastas dinamarqueses: "The Kingdom Hearts", de Lars von Trier, e "Copenhagen Cowboy", de Nicolas Winding Refn. Ainda no escopo fora da caçada ao Leão, duas realizadoras de prestígio apresentam curtas inéditos: a inglesa Sally Potter exibe "Look At Me", estrelado por Cris Rock e Javier Bardem, e a argentina Lucrecia Martel apresenta ao Lido "Camarera de Piso".

Antes de Veneza, rola o 75º Festival de Locarno, que começa na Suíça no dia 3, e exibe o longa carioca "Regra 34", de Julia Murat, na briga pelo Leopardo de Ouro.

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