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Flecha no alvo do sexismo

Estrela num "007" de muito sucesso, mas hoje pouco falado ("O Mundo Não É o Bastante"), e ícone de amor romântico em sua passagem pelo oscarizado "Coração Valente" (1995), Sophie Marceau já teve Hollywood em suas mãos, nos anos 1990, mas preferiu ficar na Europa, onde filma pouco, mas com qualidade. Vez por outra, ela brilha à frente de comédias ("Rindo À Toa") ou dramas pesados ("Está Tudo Bem").

No Festival de Locarno, sua passagem tem feito barulho, mas outras vias que não a do riso ou do pranto, e, sim, a do suspense, com o tenso "Une Femme de Notre Temps". Desde sua abertura, no dia 3, com "Trem-Bala", a maratona suíça não recebeu nada mais exótico do que o longa de Jean-Paul Civeyrac, que começa como uma radiografia de vida a dois, modulada por um trauma, e descamba para um thriller eletrizante, mesmo excessivo, com Sophie atirando flechas.

Embora muitos elementos narrativos de "Une Femme de Notre Temps" soem caricatos, em especial o uso exacerbado de música para frisar as situações de conflito, a condução de sua trama cativa o espectador pelo ritmo vertiginoso de sua montagem. E a complexidade que sua protagonista ganha de madame Marceau sustenta situações das mais esquisitas, a maioria ligadas ao uso do arco. No enredo escrito e dirigido por Civeyrac, o principal alvo é o sexismo, o que dá ao longa um tônus político relevante.

Sophie encarna Juliane, uma policial que é também escritora, e vive às voltas com a dor do luto, pela perda de uma irmã. Descarrega seus fantasmas treinando como arqueira. Mas a percepção de que seu marido, Hugo (o belga Johan Heldenbergh, de "Alabama Monroe") possa ter uma amante, leva Juliane a um ciclo de violência crescente. E o esbarrão dela com uma mulher acossada por um companheiro agressor detona ainda mais sua sede de justiça. É um filme sobre revanche e empoderamento. Rascante, mas bom. (R.F)

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