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'Os super-heróis hoje põem a indústria cinematográfica de pé'

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Revelado ao circuito exibidor em 2015, com o divertido "Meu Nome É Jeeg Robot" (em cartaz na grade da plataforma HBO Max), Gabriele Mainetti é um cineasta romano de 45 anos que faz das narrativas de super-herói o objeto de uma obra que destoa da sisudez sociológica das telas da Europa e aposta na fantasia. Seu longa-metragem mais recente, "Freaks Out", indicado ao Leão de Ouro de Veneza em 2021 e laureado com 21 prêmios (incluindo o de júri popular no Festival de Roterdã), será exibido hoje no Rio e em São Paulo, numa apresentação única, às 18h.

Sua projeção integra a 8 ½ Festa do Cinema Italiano, no Espaço Itaú, em Botafogo. Sua trama viaja no tempo, até a II Guerra Mundial, quando uma trupe circense com superpoderes é capturada por um cientista nazista (vivido por Franz Rogowski). Na entrevista a seguir, o diretor fala sobre a cena pop da Itália nas telonas.

Qual é o desafio de retratar super-heróis num país que criou o neorrealismo?

Gabrielle Mainetti: Os super-heróis seguem uma linha arquetípica que nasce na mitologia grega e são eles que, hoje, põem a indústria cinematográfica de pé. Quando penso no que Martin Scorsese falou recentemente sobre esse filão, dizendo que não se trata de cinema, ele não se referia aos heróis em si, nem à Marvel ou à DC, e sim ao fato de os grandes estúdios que filmam HQs terem uma ingerência sobre os projetos que oblitera a visão dos diretores. A crítica dele era a essa interferência na voz autoral. Cinema é cinema, não importa de que tema fale. Se você entregar um filme de super-herói a grandes cineastas, dali vai sair um bom espetáculo audiovisual. Na Itália, eu filmo com liberdade, seguindo um contexto narrativo histórico aristotélico, de três atos. Mas eu sou um romano. E sou muito ligado à minha cidade. Logo, o meu cinema reflete essa ligação.

E a sua principal referência estética é a cidade de Roma?

Roma está muito presente, pois tento entender o tecido social que me cerca. Mas trago muito da obra de Sergio Leone comigo, assim como Mario Monicelli, "Freaks Out" é puro "O Incrível Exército de Brancaleone". Monicelli nos ensinou que todo movimento artístico é um movimento político.

Como é a sua relação de leitor com os quadrinhos?

Sou um leitor modesto, embora tenha começado a ler HQs ainda muito jovem, só que eu estou mais próximo dos fumetti (o gibi italiano) e dos mangás japoneses do que de Marvel e DC. Sinto que meus filmes estão mais próximos dos animês do Japão do que do quadrinho, em parte por eu ter sido um daqueles garotinhos que cresceram em frente à televisão vendo desenho animado. Penso a minha linguagem como se fosse um cartum em animação.

O que existe de felliniano no circo de "Freaks Out"?

Eu não sigo o espírito nostálgico de Fellini em relação ao universo circense, que já está em "La Strada". Zampanò, vivido por Anthony Quinn, sob a direção de Fellini, é uma figura única. Mas eu quis apostar em um espaço ambíguo, que não apenas no circo como uma arena artística. Eu me lembro do meu fascínio por acrobatas, quando pequeno. E quis mostrar um circo sem animais, mais próximo da experiência do Cirque du Soleil.

E quais são os planos para o futuro?

Vou fazer o que chamam de "um filme normal", algo longe dos códigos que venho perseguindo. Sabe que eu tenho uma história escrita sobre o Brasil, pois quando tinha 17, 18 anos, eu me apaixonei por uma paulista.

Alguma chance de você adaptar um fumetti famoso, como "Dylan Dog", por exemplo?

Adoro "Dylan Dog", mas seus direitos estão nos Estados Unidos, com James Wan, que rodou "Aquaman". Lia muito as HQs desse detetive do sobrenatural. E gosto muito da HQ de agentes secretos "Alan Ford" também.

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