14 anos de luta e conquista pelo hip hop
A Roda Cultural de Volta Redonda surgiu em 2011, a partir da necessidade de se criar um espaço para que os MCs de Volta Redonda pudessem praticar o freestyle. Acima de tudo, a Roda Cultural se propõe a cumprir um papel político em toda a região sul fluminense ao existir como uma manifestação da cultural negra, periférica e independente, que aumenta a acessibilidade do público ao hip hop e entende o potencial educativo da arte urbana.
— A Roda é uma das poucas manifestações longevas na cidade que trata sobre hip hop, sob uma perspectiva crítica à ordem vigente, numa região em que emergiram diversos coletivos de cultura urbana que não conseguiram se autossustentar pela dificuldade em manter uma manifestação independente. Ouso dizer que a Roda existe e resiste em respeito à sua história: à história do hip hop local e à história daqueles que emergiram, mas que por algum motivo, infelizmente sucumbiram - completa Calebe, produtor e agente cultural que faz parte do coletivo.
Ao longo de seus 14 anos, a Roda Cultural não apenas se estabeleceu como um marco da cultura voltarredondense, como fortaleceu a cena hip hop como um todo e facilitou o surgimento e a formação de novos coletivos e artistas. Hoje, as rodas de rima são patrimônio cultural imaterial em Volta Redonda, e a Roda Cultural é reconhecida publicamente como um coletivo que atual em prol da justiça social, por meio de uma Condecoração honrosa da Secretaria Municipal de Direitos da Mulher e dos Direitos Humanos. A Roda também desenvolveu, em 2025, a iniciativa "Ritmo & Correria", que funciona como um "braço" do coletivo que promove intervenções educativas sobre elementos básicos do hip hop, formando e profissionalizando novos artistas.
Além da valorização da potencialidade artística local, a Roda Cultural foi responsável por trazer artistas notórios da cena hip hop nacional à Volta Redonda, em apresentações completamente gratuitas, como BK, Kmila CDD, Maui e Nochica.
O coletivo é composto por pessoas de diversas formações e trajetórias de vida que acreditam no poder da cultura hip hop: trabalhadores CLT, agentes culturais, artistas e estudantes de áreas variadas. Sua formação atual consiste dos nomes: Graziel (Mestre de cerimônia/Agente Cultural); Dirty Death (DJ residente); lvks (DJ Residente); Preguiça (Graffiteiro / Comunicação); OGPXT (Jurado de batalha); LC (Fotográfo); Lewl (Designer gráfico/Comunicação); Calebe (Produtor e educador); Isadora (Produtora); Aninha (Comunicação e cenografia); Guilherme (Agente cultural e pesquisador); e Pamck (Comunicação e agente cultural).
Muitos da equipe são pessoas que tiveram seu primeiro contato com a Roda como admiradores, durante a adolescência, e passaram por momentos de formação de sua identidade pessoal e profissional a partir das experiências com o coletivo.
— Para mim, a Roda sempre foi sinônimo de acolhimento e referências, e até hoje vejo isso dentro do coletivo. Se não fosse o acolhimento que recebi quando mais novo eu realmente não sei o que seria da primeira parte da minha juventude; período tão complexo e nebuloso na vida de alguns jovens, assim como foi para mim. A cada intervenção da Roda, se percebe uma nova perspectiva na mente de cada um que tem contato com o coletivo. Vejo que, principalmente nas crianças que sempre tem interesse em algo diferente e que são impactadas com a Roda representando o Hip Hop — explica Guilherme.
A maior perspectiva de futuro da organização da Roda Cultural é a permanência: continuar atuando e educando na cidade e buscando a ampliação de suas iniciativas. Para além disso, o coletivo entende que, apesar dos avanços alcançados em sua trajetória, a desvalorização e criminalização da cena ainda é forte na região. Por isso, ela também pretende conquistar ainda mais valorização da cultura hip hop nos espaços urbanos, por meio de políticas públicas que viabilizem não somente uma atuação mais completa da própria Roda, como também a consolidação de outros coletivos, garantindo o crescimento de toda a cena hip hop local.
— É só se perguntar: por que os coletivos de cultura urbana da região não são longevos como a Roda? Existem políticas públicas nas últimas gestões que possibilitem a emergência e a longevidade de novos coletivos de cultura urbana? A Roda Cultural é uma exceção: existe há 14 anos porque tem seu público como principal aliado, que faz o movimento se manter vivo, e resiste porque não se aparelha com políticos, traz a criticidade como ponto central, atrelado ao entretenimento e diversão — conclui Calebe.
