Casal 'imitador' é indiciado

Processo por racismo inicia no Dia Nacional da Consciência Negra

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Por Marcello Sigwalt

Flagrado em vídeo pela jornalista Jackeline Oliveira, em julho deste ano, imitando movimentos de macacos, durante a roda de samba 'Pede Teresa', na Praça Tiradentes (centro), um casal branco foi indiciado por racismo pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), nessa quarta-feira (20), não por acaso, para coincidir com o Dia Nacional da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares.

A investigação teve início quando as imagens foram encaminhadas à Polícia, quando então a Decradi passou a analisa-las, ouvir testemunhas e os autores do crime, o professor Thiago Martins Maranhão, de 41 anos, brasileiro, e a turista argentina Carolina de Palma. O relatório resultante será enviado ao Ministério Público (MPRJ).

Em sua conclusão, o inquérito aponta que "o ato praticado associou negativamente indivíduos ou grupos, especialmente em relação à população negra, uma vez que esse comportamento é carregado de uma história de racismo, já que a comparação entre pessoas negras e macacos foi amplamente usada para desumanizá-los e discriminá-los ao longo da história".

Em contraste com a tese - defendidas por alguns, de que tais atos poderiam ser considerados 'brincadeiras' - a delegacia entende que tais atos 'perpetuam traumas, desigualdades sociais, além de ferirem a dignidade humana'.

Jackeline Oliveira, sustenta que "nenhum avanço vem sem luta e toda luta é coletiva, principalmente, a luta contra o racismo. Ver esse caso andar no primeiro dia nacional da Consciência Negra, é simbólico demais. Traz um ar de esperança na justiça. Nós, pessoas negras, nunca fomos incentivados a lutar pelos nossos direitos, a denunciar. Hoje sabemos que a lei precisa garantir nossos direitos, principalmente do bem viver".

De acordo com a legislação brasileira em vigor, o crime de racismo é 'inafiançável' e 'imprescritível', com pena prevista de três a cinco anos de reclusão. A defesa dos professores acusados não foi localizada pela reportagem. Outras testemunhas ouvidas pelos policiais foram além, afirmando que o casal suspeito, além de protagonizar a 'coreografia símia', também teriam emitido sons similares aos dos primatas.