Por Marcello Sigwalt
Suspeito de movimentar aproximadamente R$ 70 milhões nos últimos dois anos, a facção criminosa intitulada 'Povo de Israel' foi alvo da Operação '13 Aldeias', deflagrada pela Polícia Civil, que investiga o golpe do 'falso sequestro', aplicado a partir dos próprios presídios, que se baseia em extorsões e tráfico de drogas. Sem contar os integrantes da quadrilha, cinco policiais penais também estão na mira dos agentes, nessa primeira fase da ação.
Surgido, em 2004 - devido à desavença entre criminosos, durante uma rebelião - o Povo de Israel, segundo apuração da Delegacia Antissequestro (DAS), teria arregimentado 18 mil presos, em 13 unidades prisionais do país, batizadas de 'aldeias', pelos próprios detentos. Tal contingente gigantesco corresponderia a 42% do efetivo prisional, tendo como base o Presídio Nelson Hungria (Bangu 7), no Complexo de Gericinó (Zona Oeste).
A operação desfechada visa o cumprimento de 44 mandados de busca e apreensão, efetuar o bloqueio de contas correntes e bens de 84 investigados, bem como afastar cinco policiais penais. O espectro logístico da ação compreende endereços de Copacabana e Irajá (zonas Sul e Norte); São Gonçalo e Maricá (Região Metropolitana); Rio das Ostras e Búzios (Região dos Lagos); e São João da Barra (Norte Fluminense); além de Apiacás (ES). São apontados como chefes da facção, Avelino Gonçalves, o Alvinho; Jailson Barbosa, o Nem; Marcelo Oliveira, o Tomate; e Ricardo Martins, o Da Lua estão entre os alvos.
Para viabilizar o golpe do 'falso sequestro', a facção criminosa lança mão de três pilares: o primeiro seria constituído pelos chamados "empresários", que 'obtêm' os celulares usados na prisão; os "ladrões", que ligariam para as vítimas, imitando as vozes de pessoas supostamente sequestradas e os "laranjas", que receberiam, de fora da cadeia, o dinheiro do crime. Isonômica, a partilha do valor obtido seria de 30%, para cada um desses componentes. Até hoje, a quadrilha já envolveu 1.663 pessoas físicas e 201 pessoas jurídicas com o objetivo de movimentar os recursos provenientes da prática criminosa.
De acordo com investigações da operação - que tem o apoio da Subsecretaria de Inteligência e Corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), que atua nos presídios onde estão as lideranças da facção - iniciada há dez meses, foi descoberto um esquema complexo de lavagem de dinheiro por meio de laranjas e empresas fantasmas.
Estudos do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que a facção contribuiu de forma efetiva para a 'explosão' de golpes no Rio que somam 109.887 ocorrências de estelionato no estado, somente nos primeiros nove meses deste ano, o que equivale, em média, a um caso a cada 3,5 minutos, em média.
Expansionista, o Povo de Israel tem investido na ampliação do processo de cooptação de presos, inclusive de outros estados, além de alavancar seus negócios.