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Bilhete eletrônico Jaé atrasa mais uma vez

Operadora pouco tem contribuído para a mobilidade da população | Foto: Marcelo Piu/Prefeitura do Rio

O Consórcio Bilhete Digital deixou de cumprir mais uma etapa do processo de implementação do novo sistema de bilhetagem eletrônica do transporte público municipal da cidade do Rio. Segundo o contrato de licitação assinado em dezembro de 2022, o novo cartão de transporte deveria estar em pleno funcionamento desde 19 de abril em todos os meios de transporte sob a gestão da Prefeitura. Mas a realidade é bem diferente: apesar da instalação dos validadores, o cartão Jaé ainda não é aceito na maior parte das linhas de vans e ônibus municipais, além do serviço complementar conhecido como "cabritinho", as Kombis que circulam em áreas de difícil acesso.

Pelo cronograma acordado em contrato e anunciado pela Prefeitura, este mês teria início a fase de transição entre o novo sistema do Consórcio Bilhete Digital e o antigo, mantido pela Riocard Mais. Na prática, de acordo com a expectativa da Prefeitura, os passageiros que utilizam transportes municipais passariam a substituir no dia a dia o cartão Riocard Mais pelo Jaé. Este processo foi estipulado no edital de concorrência para ser concluído em três meses, com término previsto para 19 de julho, quando só o Jaé será aceito no sistema de "cabritinhos", vans e ônibus municipais, VLT e BRT.

O novo atraso no funcionamento do Jaé traz ainda mais incertezas em relação ao futuro da bilhetagem digital no Rio. A implantação do novo sistema já havia sido adiado duas vezes. Foi anunciado primeiro para novembro de 2023, e depois para fevereiro de 2024 ano. Como o processo de implementação não evoluiu, ficou valendo a data contratual de 19 de abril para a operação plena do Jaé e início da desmobilização da Riocard. Mais uma vez o prazo, entretanto, o cronograma divulgado pela Prefeitura do Rio — inclusive pelo prefeito Eduardo Paes e a secretária de Transportes, Maína Celidônio — não foi cumprido pela empresa vencedora da licitação, que tem alegado dificuldades técnicas.

Poucos conhecem o Jaé

Além do descumprimento contratual, o Consórcio Bilhete Digital vem sendo alvo de reclamações por falta de informações à população. Passageiros ainda demonstram desconhecimento sobre o cartão Jaé e surpresa quanto à saída iminente da Riocard Mais do Município do Rio. O início da fase de transição entre os dois sistemas, que começou há dez dias, ainda não foi comentado publicamente nem pelo consórcio nem pela Prefeitura.

Para agravar a situação, é comum passageiros encontrarem validadores desligados no sistema de transporte público. Os equipamentos estão instalados, mas ainda não funcionam, principalmente nos ônibus. Sem a operação plena do sistema, não é possível utilizar o benefício social do Bilhete Único Carioca, que prevê o uso de até três transportes municipais pagando apenas uma tarifa no valor de R$ 4,30. Ou seja, o prejuízo do passageiro é também em dinheiro.

Sem gratuidade

A situação não é melhor para quem é beneficiado pela gratuidade. Até agora, passageiros portadores de deficiências e estudantes municipais vêm recorrendo ao cartão Riocard Mais para não ficar a pé. Embora a licitação tenha determinado o cadastro e a emissão do cartão Jaé, o Consórcio Bilhete Digital pouco avançou na concessão do benefício, que é assegurado em lei, mesmo 15 meses depois da assinatura do contrato de concessão com a Prefeitura do Rio.

Pouca adesão

Em meio às dificuldades técnicas e à falta de comunicação, o Jaé pouco tem contribuído para a mobilidade da população. Mesmo tendo iniciado a sua operação em 19 de julho do ano passado no sistema BRT, o novo cartão ainda movimenta menos de 1% dos passageiros que utilizam os corredores exclusivos do BRT, cabendo à Riocard Mais o atendimento dos demais usuários. Após 281 dias de funcionamento, o Jaé tem registrado, em média, 1.700 transações por dia, o que equivale à receita de R$ 7.300, já descontada a taxa de operação. Na prática, pouco mais de 800 pessoas têm utilizado diariamente o novo sistema de bilhetagem do Consórcio Bilhete Digital.

Procurada pelo Correio da Manhã, a Riocard Mais preferiu não se manifestar sobre o atraso no cronograma de implantação do Jaé, pois não participou do processo de licitação promovido pela Prefeitura do Rio.