Espaço sideralda solidariedade
A HQ 'Djou' celebra a amizade ao narrar as aventuras de crianças iluminadas por um corpo celeste que revela os segredos da parceria
Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Roteirista e artista visual, especialista em literatura infantojuvenil, Renata Richard encara o desafio de enveredar pelos códigos pop das histórias em quadrinhos em "Djou", que a Guará, editora por trás de cults como "Santo" e "Teocrasília", acaba de prensar e enviar pra livrarias, singrando um universo mágico.
Tem gosto de "Goonies", tem aroma de "Os Trapalhões no Rabo do Cometa" e traz uma reflexão sobre solidariedade em tom fabular que evoca o quarentão "E.T., o Extraterrestre" (1982), de Steven Spielberg. O roteiro é de Renata e de Flávia Lins e Silva (a mente operante na criação dos "DPA", os Detetives do Prédio Azul), e a adaptação para as HQs de é Cora Ottoni, com ilustrações de Leo Finocchi e colorido de Lola Oliveira.
A trama: um grupo de amigos observa o céu, à noite, quando um estranho meteorito cai bem onde eles estão, trazendo uma criatura de outro mundo. As aventuras que começam a partir dessa colisão do corpo celeste com a Terra será uma aula de inclusão.
De que maneira a sua incursão como pesquisadora no universo infantojuvenil te atraiu para a linguagem das HQs?
Renata Richard: Pelo uso das imagens, principalmente. Na literatura infantojuvenil, a imagem está quase sempre presente e com importante protagonismo narrativo. Nos quadrinhos, a imagem assume esse papel na máxima potência e se aproxima bastante do audiovisual. O "Djou" sempre foi visto como um projeto multiformato, mas nunca pensamos como HQ. Inicialmente, escrevemos "Djou" para audiovisual e estávamos finalizando uma versão em livro. Quando surgiu a possibilidade da parceria para o gibi, um portal se abriu. Uma HQ é como um storyboard vivo. "Djou" é uma história cheia de ação e o formato quadrinhos se encaixou perfeitamente a ela, de modo que conseguimos explorar o percurso dos acontecimentos com muito dinamismo. Adaptar a narrativa para o quadrinho foi um exercício para o projeto como um todo e um novo desafio para a gente. Nenhuma de nós havia escrito nesse formato. Tivemos o apoio da Cora Ottoni na adaptação. Fiz também a direção artística do projeto, que conta com uma equipe de arte incrível, ilustrador (Leo Finocchi), balonista (Igor Strochit), colorista (Lola Oliveira), editores (Rapha Pinheiro, Ananda Valle). Com certeza, um segmento da literatura que merece a atenção e o destaque que vem ganhando de fato, nos últimos anos.
O que existe de mais desafiador no mercado de quadrinhos no país hoje? Que lições sobre a realidade editorial você tira desse projeto?
Aprendemos a ler com os gibis do Cebolinha, Turma da Mônica e "Kripta" (um almanaque de terror dos anos 1980) e acreditamos na potência que o formato em quadrinhos tem para atrair e formar nossos pequenos leitores. Além disso, acreditamos que é um formato forte para encarar o atual momento de desleal concorrência com o meio digital. Ela esmaga o meio impresso dia a dia. Não vemos ações políticas de fortalecimento do segmento editorial e ainda tivemos eventos que contribuíram para prejudicar mais esse frágil mercado, como a pandemia, que afetou diretamente nosso projeto. Fechamos a parceria com a editora Universo Guará pouco antes da pandemia. O foco era a distribuição nas bancas de jornal. Depois que a pandemia se instalou, o projeto andou um pouco e redefinimos a estratégia. No momento, estamos distribuindo em livrarias físicas e pela internet (por enquanto na Amazon) e levando em eventos ao redor do Brasil, agora que a pandemia deu uma trégua.
Onde fato e fábula se misturam nessa sua narrativa?
Olhar o céu e viajar pelo espaço será sempre uma aventura mágica. Ao longo desse projeto, conversamos com diversas astrônomas e astrônomos e descobrimos que o artista está longe de ser o indivíduo mais criativo do universo. A ciência que estuda o cosmo carrega no tempero inventivo... e precisa mesmo disso. Mal enxergam muitas das coisas que estudam. A imaginação também corre solta nas aventuras de Djou e sua turma, O principal lugar da fábula está na chegada de Djou, uma fonte de energia que ninguém sabe dizer qual é, capaz de levar a turma para os confins do Universo, se é que ele existe! Mas o lugar do conhecimento, é o que nos levou a desenvolver essa história para o público infantojuvenil, nosso maior objetivo é trazer de uma forma lúdica e divertida a enorme quantidade de descobertas impressionantes que a ciência vem fazendo, impulsionadas pela revolução das tecnologias, aproximar as crianças do cosmo, mostrar que nós somos parte dele.
Qual é o lugar da solidão e qual é o lugar da amizade que percorre o universo de seus personagens?
Djou, de outro mundo, fala muito desse lugar de solidão e conexão. A história gira em torno da chegada de Djou, um ser que cai do espaço bem em cima de Leo, um menino frágil. Djou, embora uma potente fonte de energia está sozinho num lugar que ele desconhece. Sua energia, capaz de levar a turma para viagens de distâncias estratosféricas, de curar o problema no coração de Leo, também precisa ser recarregada. E a energia, para isso, é o amor. A conexão de Djou e Leo é, antes de tudo, um laço de afeto.
