Por:

Planalto acredita que deve manter os laços com Israel

A saída de Benjamim Netanyahu do poder em Israel privou o presidente Jair Bolsonaro de mais um aliado na arena internacional. Porém, o governo brasileiro não acredita que o novo primeiro-ministro do país, Naftali Bennett, atuará para se distanciar radicalmente do Brasil.

Conselheiros do líder brasileiro ouvidos pela reportagem avaliam que Bennett deve adotar uma postura pragmática e cultivar boas relações com o governo Bolsonaro, para fortalecer um dos principais objetivos israelenses em política externa: evitar o isolamento em fóruns internacionais.

Desde o início do governo Bolsonaro, o Itamaraty rompeu uma linha histórica de opinião e passou a defender Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O ex-chanceler Ernesto Araújo, por sua vez, argumentava que havia "tratamento discriminatório contra Israel" na Organização das Nações Unidas.

Recentemente, o próprio Bolsonaro classificou de "absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense" por parte de militantes palestinos.

Embora o atual chanceler, Carlos França, tenha moderado o discurso, as linhas gerais continuam sendo pró-Israel. Na prática, o Brasil ainda defende uma solução que envolva os dois estados, mas retirou, em seus comunicados, menções às fronteiras pré-1967 e a Jerusalém Oriental como capital da Palestina.

Diplomatas ouvidos pela reportagem lembram que Bennett tem posições tão ou mais duras do que Netanyahu em relação à disputa territorial com os árabes. Membro de um partido de ultradireita, o Yamina, ele é, por exemplo, declaradamente contra a existência de um Estado palestino.

Para tentar manter os laços com o novo governo, o Itamaraty trabalha para organizar o quanto antes uma ligação telefônica entre Carlos França e o novo ministro de Assuntos Exteriores de Israel, Yair Lapid – que, pelo acordo parlamentar, deve assumir o comando do governo daqui a dois anos.

Na segunda (14), um dia depois da votação no Parlamento que sacramentou a saída de Netanyahu, Bolsonaro teceu elogios ao ex-premiê em suas redes sociais.

"Agradeço a Netanyahu, meu grande amigo, pelo ótimo trabalho que pudemos desenvolver juntos no fortalecimento da parceria entre os nossos países e na promoção do bem-estar dos nossos povos. Tenho certeza de que a sorte e o seu imenso talento não lhe faltarão nesta nova etapa", escreveu.

"Também dou as boas-vindas ao novo governo israelense e desejo sucesso ao premiê Naftali Bennett e ao ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, parabenizando-os pelo êxito nas eleições e na formação do governo. Estejam certos de que o Brasil não faltará a Israel e aos judeus."

Apesar da expectativa de uma postura pragmática por parte de Bennett, interlocutores acreditam que ele vai se manter mais distante de Bolsonaro, já que o novo premiê estará concentrado na reconstrução de laços com o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, e na preservação do apoio a Israel no Partido Democrata - em que existe forte oposição a Bolsonaro.

Além do mais, Lapid, figura-chave da nova administração, é um crítico da aproximação de Netanyahu com líderes populistas como Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

Por Ricardo Della Coletta (Folhapress)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.