STF autoriza cirurgia de Bolsonaro marcada para o Natal
Após cancelar entrevista por questões de saúde, ex-presidente fará procedimento em Brasília
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve passar por uma cirurgia de herniorrafia inguinal bilateral nesta quinta-feira (25), em Brasília. O procedimento foi autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da execução penal, após manifestação favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR). A decisão prevê a condução de Bolsonaro ao Hospital DF Star, em Brasília, para exames preparatórios e a realização da cirurgia no Natal, em caráter eletivo.
A definição da data ocorre um dia após Bolsonaro cancelar uma entrevista que concederia ao portal Metrópoles, autorizada previamente por Moraes. O ex-presidente comunicou a desistência por meio de um bilhete escrito à mão, no qual alegou “questões de saúde” para não participar da conversa, que aconteceria na Superintendência da Polícia Federal (PF), onde ele está custodiado desde 22 de novembro.
Cirurgia
Nos autos da execução penal, a defesa apresentou exames e relatório médico assinados pelo cirurgião Cláudio Birolini, indicando a necessidade do reparo cirúrgico. A perícia médica oficial da Polícia Federal concluiu que o procedimento é recomendado, mas sem caráter emergencial, o que permitiu a programação da cirurgia de forma eletiva.
Segundo o Dr. Birolini, embora toda cirurgia exija cuidados, a herniorrafia inguinal é um procedimento padronizado, com menor risco de complicações. O médico destacou que se trata de uma intervenção mais simples quando comparada às cirurgias abdominais anteriores enfrentadas por Bolsonaro, realizadas em contexto de emergência e maior complexidade clínica.
Entrevista desmarcada
A entrevista cancelada havia sido autorizada pelo STF e gerou expectativa por se tratar de uma das raras manifestações públicas do ex-presidente desde a prisão. Ao desistir do encontro alegando problemas de saúde, Bolsonaro ampliou a repercussão pública em torno de sua condição clínica, agora oficialmente reconhecida nos autos da execução penal.
A decisão de Moraes que autorizou a cirurgia também estabeleceu regras rígidas de segurança, incluindo vigilância permanente da Polícia Federal durante a internação e restrições ao uso de aparelhos eletrônicos no quarto hospitalar. A presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como acompanhante foi autorizada, enquanto demais visitas dependerão de autorização judicial.
Estratégia
Para Leandro Gabiati, especialista em ciência política do Ibmec Brasília, o cancelamento da entrevista não pode ser analisado apenas sob o aspecto médico e tende a produzir efeitos políticos e jurídicos.
“Ao cancelar a entrevista por um suposto motivo de saúde, o ex-presidente consegue criar mais um fato público vinculado à necessidade de concessão de prisão domiciliar, que a defesa dele vem reforçando junto ao Judiciário”, avalia Gabiati em entrevista ao Correio da Manhã.
Na leitura do especialista, o episódio amplia a pressão institucional sobre o Supremo.
“O cancelamento amplia a repercussão em torno do estado de saúde do ex-presidente, aumentando a pressão sobre o STF para a concessão da prisão domiciliar”, afirma o analista político.
Gabiati acrescenta que a decisão também deve ser explorada politicamente por aliados de Bolsonaro. “Os apoiadores tendem a reforçar nas redes sociais a situação particular de saúde do ex-presidente, mobilizando um discurso humanitário para avançar nesse pedido”, diz.
Repercussão
Para o cientista político, independentemente da gravidade clínica específica, episódios como o cancelamento da entrevista e a realização da cirurgia mantêm Bolsonaro no centro do debate público.
“Independentemente da situação específica de saúde, o cancelamento tende a ser explorado politicamente, mantendo Bolsonaro como um dos atores centrais da política brasileira”, conclui.
A cirurgia marcada para o Natal, agora com aval formal do STF e da PGR, passa a integrar um contexto mais amplo em que questões médicas, jurídicas e políticas seguem entrelaçadas.