PF acha R$ 430 mil em operação contra deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, do PL

Em investigação sobre desvio de recursos da cota parlamentar, dinheiro em espécie foi encontrado em flat alugado por Sóstenes, líder do partido

Por Jorge Vasconcellos

Dinheiro vivo (R$ 430 mil) encontrado pela PF em flat alugado pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), em Brasília

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) foram alvos de uma ação de busca e apreensão executada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (19). A Operação Galho Fraco foi deflagrada para aprofundar investigações sobre desvio de recursos públicos oriundos de cotas parlamentares. Em um flat alugado por Sóstenes na área central de Brasília, foram apreendidos R$ 430 mil em espécie.

A cota parlamentar é uma verba mensal paga com recursos públicos a deputados e senadores para custear gastos relacionados ao exercício do mandato, como aluguel de veículos, passagens aéreas, hospedagem, alimentação, manutenção de escritório e contratação de serviços de consultoria. Esse valor é adicional ao salário dos parlamentares.

A pilha de dinheiro encontrada no flat ocupado pelo líder do PL estava envolvida em um saco plástico e continha notas de R$ 100.

De acordo com as investigações, agentes políticos, servidores comissionados e particulares teriam atuado de forma coordenada para o desvio e posterior ocultação de verba pública.

Os parlamentares do PL tiveram os celulares apreendidos durante a operação.

A operação de hoje foi autorizada pelo ministro Flávio Dino, relator do caso. Em sua decisão, ele determinou a quebra de sigilo bancário, de bens, direitos e valores mantidos em instituições financeiras, tanto de Carlos Jordi quanto de Sóstenes Cavalcante. A medida vai abranger o período entre 2018 e dezembro de 2024. 

A ação da PF é desdobramento de Operação Rent a Car, deflagrada em dezembro de 2024 para investigar os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na ocasião, foi descoberto o envolvimento de assessores dos deputados Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante com um esquema de pagamentos irregulares com recursos de cotas parlamentares.

Com os assessores foram apreendidos celulares, e os agentes identificaram mensagens trocadas com os deputados – o que levou à operação desta sexta-feira (19).

A investigação aponta para a existência de esquema criminoso caracterizado pela interação entre os setores público e privado, em que agentes públicos e empresários teriam estabelecido acordo ilícito para o desvio de recursos públicos oriundos de cotas parlamentares.

Segundo a PF, os investigados utilizaram empresa de locação de veículos para simular contratos de prestação de serviços.

A suspeita é que uma locadora foi usada para lavar o dinheiro. A Haure Locação de Veículos seria uma empresa de fachada. O despacho do ministro Flávio Dino cita a frota pequena da empresa.

Sóstenes alega venda de imóvel

O deputado Sóstenes Cavalcante falou à imprensa sobre a operação de hoje da PF. Segundo ele, os R$ 430 mil apreendidos pelos agentes são oriundos da venda de um imóvel. Ele, porém, não explicou por que recebeu dinheiro vivo pela suposta venda.

Sóstenes falou que seus advogados e o contador vão apresentar todos os documentos e informações. Ele disse que depositaria o dinheiro, mas não teve tempo. "Guardei no meu guarda-roupa, dentro do meu flat", justificou. "Ninguém coloca dinheiro ilícito dentro de casa, gente."

O parlamentar concordou que é estranho guardar quase meio milhão em casa. Disse que foi um "lapso" causado pela correria do trabalho. Também alegou que a venda foi comunicada às autoridades e que o imóvel estava declarado em suas informações no Imposto de Renda. O imóvel não está, contudo, em sua declaração de bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Lá apenas diz que ele tem R$ 4.926,76 em saldo em duas contas correntes.

O líder do PL também não soube dizer as datas de compra e venda do imóvel, afirmando que o adquiriu cerca de dois anos atrás e depois das eleições de 2022. O parlamentar disse que vendeu o imóvel semana passada. Questionado se mostraria a documentação do negócio, Sóstenes falou que foi orientado a entregar primeiro à Justiça.

O líder do PL se recusou a dar detalhes do imóvel "para não expor outras pessoas". O parlamentar não revelou a cidade que fica, o tamanho e nem quem foi o comprador. Ele se resumiu a afirmar que é uma residência e fica em Minas Gerais.

Movimentações milionárias de assessores

O deputado também se defendeu das movimentações milionárias de servidores comissionados. Vários deles têm transações acima de 1 milhão de reais, com um deles chegando a R$ 11 milhões.

O funcionário comissionado que movimentou R$ 11 milhões é motorista de Sóstenes. O líder do PL disse que o servidor comissionado tem uma distribuidora de bebidas e, por este motivo, tem uma soma milionária de movimentação financeira.

O deputado tentou limitar a operação a um único caso, afirmando que seu motorista é o responsável pelo aluguel do carro. A PF suspeita de uso de locadora para lavar dinheiro desviado da verba de gabinete.

Mas o líder do PL se omitiu sobre pontos da investigação, não explicando, por exemplo, movimentações milionárias de quatro pessoas citadas pelo ministro do STF Flávio Dino na decisão, que autorizou a operação.

Sóstenes falou que recebeu ligação do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que, segundo ele, lhe prestou solidariedade. O líder do PL afirmou que mais parlamentares também entraram em contato. Na entrevista, ele estava ao lado de Capitão Alberto Neto (PL-AM) e Bia Kicis (PL-DF).

O parlamentar mencionou perseguição, mas não centrou a defesa neste ponto. O deputado também falou em cortina de fumaça para ofuscar a operação da PF sobre o roubo do INSS.

Na operação policial de hoje, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão. Os alvos dos investigadores foram endereços em Brasília e no Rio de Janeiro. Os gabinetes de Sóstenes e Jordy não entraram na operação.

Jordy defende relação com locadora

Em vídeo divulgado nas redes sociais, o deputado Carlos Jordy criticou a operação da PF. Ele afirmou que tem contrato com a locadora investigada desde 2019 e que o fato de a empresa contar com uma pequena frota veículos não justifica as suspeitas levantadas pelos agentes. O deputado acrescentou que não cabe ao parlamentar fiscalizar a frota ou a estrutura interna da empresa contratada. 

“Se o contrato existe há anos, por que a operação anterior não encontrou para justificar nova ação agora?”, questionou, ressaltando que a responsabilidade do gabinete é contratar o serviço mais eficiente pelo menor custo.

A investigação também envolveu documentos e endereços ligados ao deputado. Ele classificou a ação como uma tentativa de intimidação contra parlamentares da oposição e afirmou que buscas desse tipo exigem indícios concretos de crimes graves e a atuação imparcial das autoridades. 

Apesar das diligências, Jordy disse que seguirá atuando na oposição e nos trabalhos da CPMI do INSS. “Seguirei firme na oposição e na CPI Mista do INSS. Essas ações não irão me intimidar nem interromper meu trabalho”, afirmou, reforçando que continuará com o mandato exercendo suas funções de fiscalização.