Lula sanciona isenção do IR sem Motta e Alcolumbre

Ausência dos presidentes da Câmara e do Senado marca clima ruim entre governo e Congresso

Por Da Redação

Ministros tentaram minimizar ausências de Motta e Alcolumbre

Promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil foi aprovada de forma unânime tanto na Câmara quanto no Senado. Ao sancionar, porém, a lei que estabelece a isenção, Lula não contou na cerimônia com a presença dos dois comandantes do Congresso, acentuando o clima ruim hoje entre o governo e o Congresso.

A cerimônia de sanção não teve a presença dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em mais um sinal do estremecimento da relação entre o governo e a cúpula do Legislativo.

A proposta foi aprovada pela Câmara dos Deputados no início de outubro, com apoio unânime do plenário. Houve apenas ausências de 18 deputados que não votaram, incluindo Eduardo Bolsonaro (PL), que está nos Estados Unidos. O endosso veio tanto de parlamentares da base aliada quanto do Centrão e da oposição. O Senado aprovou o texto no início de novembro, de forma simbólica, também por unanimidade.

A cerimônia de sanção já tinha sido adiada na semana passada pelo Planalto para evitar que o evento estivesse esvaziado por conta da ausência de autoridades presentes na COP30 e do feriado do dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.

Justiça

O discurso do presidente Lula foi marcado pela abordagem à justiça tributária e social, com defesas à redução de jornada e taxação dos mais ricos.

No começo de sua fala, o presidente da República cumprimentou os relatores da matéria no Congresso e aos parlamentares "que tiveram a sensiblidade de fazer com que esse país pudesse continuar acreditando na política".

Sem citar nominalmente Motta e Alcolumbre, Lula falou que é possível viver democraticamente na diversidade e que ninguém precisa ser igual ao outro. "Temos apenas que nos respeitar, conversar e sempre encontrar o caminho do meio que possa não atender a um ou outro, mas atender a todos", disse Lula.

"Qualquer um tem que saber que isso é injusto. Eu recebo dividendo e não pago nada de imposto de renda... Agora eu trabalho que nem um desgraçado, vou ter R$ 10 mil de participação nos lucros, e vou ter que pagar imposto de renda. Vamos ter que começar a pensar, porque estamos apenas no início de uma coisa que tem que acontecer e já aconteceu em muitos países do mundo", disse Lula.

Rompimentos

Motta rompeu com o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ). Em paralelo, Lula frustrou os planos de Alcolumbre ao indicar Jorge Messias, advogado-geral da União, para o Supremo Tribunal Federal (STF), em vez de seu favorito, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Logo após o anúncio de Messias, o presidente do Senado reagiu colocando em pauta projetos com potencial de impacto bilionário para as contas públicas.

A ausência dos presidentes das duas casas foi minimizada pela ministra das Relações Instititucionais Gleisi Hoffman. Para ela, eles tiveram participação essencial na aprovação.

"A ausência dos presidentes em nada ofusca a importante condução e apoio que deram a essa matéria. O estudo do Ipea divulgado hoje mostra a redução de 70% da pobreza no Brasil e a menor diferença que nós tivemos de renda na história desse país", disse.

Relator do projeto na Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) enfatizou a importância. "Uma demonstração inequívoca de que o país reconhece a importância e a urgência de corrigirmos distorções e históricas na tributação da renda."

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou esperar que o dinheiro extra não seja usado para bets. "Este projeto é o primeiro grande passo que se dá no rumo da justiça tributária. Só torço, presidente, sinceramente, que esse dinheirinho do trabalhador e do pobre não vá para a jogatina. A jogatina que se esquiva com padrinhos poderosos, mas que precisa e que vai pagar imposto", afirmou.
"Eu estou vindo juntamente com o senador Eduardo Braga de uma reunião na comissão de assuntos econômicos quando aprovamos ou pelo menos iniciamos a apreciação de um projeto que irreversivelmente vai elevar as alíquotas da taxação de bets e de fintechs no Brasil."
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, abriu sua fala agradecendo todos os parlamentares, "presentes e ausentes". Em seguida, citou nominalmente Motta e Alcolumbre, afirmando que sem o empenho deles o projeto não teria avançado neste ano.

"Queria dizer a eles que o Brasil precisa muito deles. Nós precisamos, como brasileiros, da atenção, dos seus trabalhos e liderança para concluir exitosamente este ano", afirmou.

Com informações de Mariana Brasil, Idiana Tomazelli, Cristiane Gercina e Márcia Magalhães (Folhapress)