Centrão vê chance de chapa sem Bolsonaros
Janela pode ter sido aberta pela prisão preventiva do ex-presidente
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) e o episódio envolvendo a violação de sua tornozeleira eletrônica são apontados por integrantes do Centrão como uma nova janela de oportunidade para pressionar por uma chapa presidencial em 2026 encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e com um nome do próprio grupo como vice.
Governadores do campo da direita e os partidos de centro e de direita que controlam o Congresso Nacional tentam há meses emplacar a chapa com o apoio de Bolsonaro, essencial para garantir viabilidade eleitoral à empreitada. Os filhos do ex-presidente resistem publicamente à ideia.
As últimas horas, porém, reavivaram o ânimo nessa direção, em especial pela confissão de Bolsonaro em vídeo de que meteu "ferro quente" na tornozeleira e a declaração, neste domingo (23), de que fez isso devido a uma "paranoia" causada por medicamentos.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que ensaiava encabeçar a chapa presidencial, foi peça central na decretação de prisão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, segundo quem a vigília convocada pelo senador tinha intuito secreto de viabilizar uma fuga do pai.
De acordo com integrantes da direita e do Centrão, a pretensão presidencial de Flávio, que havia ganhado o aval do deputado federal Eduardo Bolsonaro, se enfraquece. O episódio fez o senador entrar na mira de Moraes, na avaliação de aliados.
Centrão
A queda de braço na direita não se resume ao cabeça da chapa, mas também ao vice. No mundo de sonhos do Centrão, Tarcísio teria como vice alguém do próprio grupo, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) ou a senadora Tereza Cristina (PP-MS).
O cuidado do Centrão na negociação tem como razão de ser a avaliação consensual no grupo de que um rompimento com Bolsonaro ou uma viagem solo sem o seu apoio teria enorme chance de fracassar nas urnas.
Nos bastidores, há promessas direcionadas à família de que caso não haja empecilhos graves ao projeto do grupo, isso facilitaria o trabalho de tentar diminuir as penas do ex-presidente no Congresso, articular um cenário do Supremo para concessão de prisão domiciliar e, a médio prazo, em caso de vitória em 2026, viabiliza a anistia geral no próximo mandato.
Rannier Bragon e Marianna Holanda (Folhapress)
