Segurança trava popularidade de Lula

Avaliação vinha em alta desde julho. Parou de crescer após a operação no Rio, diz pesquisa Quaest

Por Rudolfo Lago

Segurança interrompeu a ascensão de Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sentiu os efeitos da operação policial feita nos Complexos do Alemão e da Penha ocorrida no final do mês de outubro no Rio de Janeiro. A operação resultou na morte de mais de 120 pessoas identificadas com o crime organizado e quatro policiais, e serviu para que governadores ligados à oposição, incluindo o próprio governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), procurassem colar em Lula uma ideia de inação do governo federal quanto ao combate ao crime. A Quaest indica que tal estragégia obteve os seus efeitos.

Depois de uma escalada de popularidade desde julho, Lula parou de subir. Na verdade, a pesquisa aponta uma oscilação para baixo, dentro da margem de erro, nos índices de aprovação do presidente. Em março, a aprovação de Lula era de 40%. Na rodada de julho, subiu para 43%. Em agosto, 46%. Em outubro, os índices de aprovação e desaprovação empatavam na margem de erro (desaprovação de 49% e aprovação de 48%). Agora, a aprovação caiu para 47% e a desaprovação subiu para 48%.

“Se o tarifaço mudou a trajetória de aprovação a favor de Lula, a pauta da segurança interrompeu a lua de mel tardia do governo com o eleitorado independente”, avaliou o diretor do Instituto Quaest, Felipe Nunes. No caso, Nunes indicava a melhora da popularidade associada às sanções econômicas impostas ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A aprovação piorou em setores onde Lula vem tendo maior domínio do eleitorado: mulheres, eleitores que ganham acima de dois salários mínimos e católicos. Nos três casos, há agora um empate entre os índices de aprovação e de desaprovação.

Na mesma linha, oscilou negativamente a avaliação do governo como um todo. Essa curva experimentara o mesmo crescimento que a pessoal de Lula. Em março, a aprovação era de 26%. Passou para 28% em julho. Em agosto, 31%. Houve uma oscilação negativa em setembro para 31%. Subida para 33% em outubro. E queda agora para 31%.

Operação

Reforçando a ideia de que a oscilação negativa da popularidade está relativamente relacionada à questão da segurança, a pesquisa aponta que a maioria da população apoiou a operação no Rio de Janeiro. Segundo a pesquisa, 67% dos entrevistados aprovaram a ação nos Complexos do Alemão e da Penha. Maior até que a aprovação somente os eleitores do Rio de Janeiro, 64%.

Na mesma linha, a Quaest perguntou se os eleitores avaliavam ter a polícia exagerado na violência. Novamente, 67% disseram que “não”. E 55% disseram que gostariam que uma operação parecida acontecesse no seu estado. A grande maioria dos entrevistados, porém, avalia que a violência no Rio é maior do que no seu estado. Essa é a percepção de 88%.

“Vítimas”

A fala de Lula poucos dias antes da operação, dizendo que os traficantes seriam “vítimas” dos usuários também foi recebida de forma bastante negativa pelos eleitores, segundo a pesquisa. Um percentual de 81% disse discordar da fala do presidente, em nível nacional. No Rio de Janeiro, o percentual foi maior: 85%.

A pesquisa mostra que mesmo aqueles que se declaram “lulistas” desaprovaram a fala: 66%. E 51% consideraram que não se tratou de um “mal entendido”, mas de “uma opinião sincera” do presidente. E 57% discordam ainda da opinião de Lula de que a operação foi “desastrosa”.

Terrorismo

Para 73%, equiparar o crime organizado a terrorismo seria adequado. E 86% concordam que a polícia prende e a justiça solta porque a atual legislação é fraca.

Quando ao consórcio dos governadores de oposição, houve um empate na percepção. Enquanto 47% disseram achar que é “mais uma ação política”, 46% consideram que “pode ajudar a reduzir a violência”.

A Quaest ouviu 2.004 pessoas entre os dias 6 a 9 de novembro em 120 municípios do país. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.