Lula e Trump afinal se encontram: "Òtima reunião"
Conversa na Malásia pode distensionar as relações entre Brasil e Estados Unidos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu, no domingo (26) durante à tarde –madrugada no Brasil, em Kuala Lumpur, na Malásia, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicanos). O encontro é marcado como a primeira conversa oficial entre os dois líderes diplomáticos desde que o país norte-americano impôs ao Brasil tarifas de 50% sobre a exportação de produtos brasileiros.
A conversa durou cerca de quase uma hora e, após, Lula declarou em suas redes sociais que o encontro foi “ótimo” e que em breve haverá soluções para as tarifas e sanções contra autoridades brasileiras.
“Tive uma ótima reunião com o presidente Trump na tarde deste domingo, na Malásia. Discutimos de forma franca e construtiva a agenda comercial e econômica bilateral. Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras”, declarou Lula.
Lula também afirmou em uma coletiva de imprensa antes da reunião que estava muito “otimista” nos avanços civilizados entre Brasil e Estados Unidos.
“Eu disse antes de chegar aqui que estava muito otimista em nós avançarmos na relação, mais civilizada possível, entre Brasil e Estados Unidos [...] Eu não sei se o presidente Trump vai ter tempo, mas eu tenho uma longa pauta para discutir com os Estados Unidos.
Já o líder norte-americano declarou antes do encontro que chegaria “rápido” em uma conclusão sobre as tarifas e que os Estados Unidos e o Brasil vão “fazer bons acordos”. Questionado também sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Trump disse que ficou “muito chateado” com o que aconteceu com o ex-chefe do Executivo brasileiro. Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
“Eu fico muito chateado com o que aconteceu com ele [Jair Bolsonaro]. Eu gosto dele. Ele parecia ser um cara muito correto e está passando por algumas dificuldades”, disse Trump.
Aproximação
Lula e Trump se encontraram rapidamente no fim de setembro na 80º Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), onde o presidente norte-americano disse que teve uma “química” com o presidente brasileiro.
Os dois presidentes também tiveram, no início de outubro, uma conversa por videoconferência, na qual Lula pediu a suspensão das tarifas impostas por Washington e defendeu o diálogo como forma de reequilibrar as relações. Trump respondeu de forma positiva, afirmando acreditar que seria possível “fazer bons negócios” com o Brasil.
Nos dias seguintes, representantes dos dois governos se reuniram em Washington para preparar um encontro presencial. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que havia disposição de ambos os lados para “reabrir os canais diplomáticos e comerciais”.
Os dois presidentes [Lula e Trump] foram convidados para participar da 47ª reunião da Associação de Nações do Sudeste Ásiático (Asean).
Tarifaço e sanções
A tensão entre Brasil e Estados Unidos começou em abril, quando Donald Trump impôs uma tarifa de 10% sobre produtos brasileiros e de outros países. Com o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passou a pedir que os Estados Unidos aplicassem sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras.
Em julho, Trump aumentou a taxa sobre produtos do Brasil para 50%, dizendo que o governo brasileiro estaria prejudicando empresas americanas e limitando a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA. Nesse mesmo período, o ministro Alexandre de Moraes foi alvo de sanções pela Lei Magnitsky, que bloqueia bens e restringe transações financeiras. Depois, as medidas foram ampliadas para sua esposa, Viviane Barci de Moraes, e para o Instituto Lex, ligado à família.
O presidente Lula defendeu a independência do Judiciário e disse que a soberania do Brasil não é negociável. Lula chegou a autorizar uma resposta com base na lei de reciprocidade, comunicando os Estados Unidos, mas a medida não chegou a ser aplicada.
Próximos passos
O Correio da Manhã conversou com o analista político Alexandre Bandeira sobre o que deve acontecer após o encontro. Para ele, agora há, de fato, uma relação diplomática entre os dois países.
“Temos agora, de fato, uma relação diplomática com bases econômicas na mesa, fazendo com que essa questão do tarifaço possa ser discutida mais abertamente em seus impactos. Negativos inclusive para o comércio interno norte-americano, que passou a comprar esses produtos tarifados mais caros do Brasil”, observou Bandeira.
“Entra na mesa toda essa questão mais de Estado, nem tanto mais de governo, para que esse assunto [tarifas comerciais] possa ser discutido de uma maneira mais profissional, com foco naquilo que é importante, buscando uma solução que agrade e atenda aos dois países”, completou.