‘Química excelente’, diz Trump sobre encontro com Lula

Chefe da Casa Branca indicou que haverá uma conversa entre os dois na próxima semana

Por Karoline Cavalcante

Trump, porém, não poupou críticas ao Judiciário brasileiro

Minutos após o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas realizada nesta terça-feira (23), em Nova York, foi a vez do líder dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano) subir ao púlpito da ONU. Em tom mais conciliador, o chefe da Casa Branca surpreendeu ao dizer que teve uma "ótima química" com Lula durante um breve encontro nos bastidores e anunciou que os dois devem se reunir na próxima semana.

“Ao entrar aqui nos vimos, nos abraçamos e concordamos de nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para conversar, foram cerca de uns 20 segundos”, afirmou Trump, em tom informal. “Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto deles, eu não faço”, completou, mencionando que mesmo com a rapidez da conversa, houve uma “química excelente”.

Contrastante

A fala contrasta com as recentes sanções do governo norte-americano. Até então, o republicano vinha adotando um tom crítico em relação ao parceiro comercial, especialmente após decidir aplicar uma sobretaxa de 50% sobre diversos produtos brasileiros no início de agosto por alegar desequilíbrio nas trocas bilaterais, acusando o Brasil de beneficiar-se de políticas tarifárias que prejudicariam empresas e trabalhadores estadunidenses. Em resposta, o Brasil defendeu que os EUA acumularam superávit superior a US$ 400 bilhões nas últimas décadas no comércio entre as duas nações, o que não justificaria novas barreiras.

Recentemente também foram revogados uma série de vistos de autoridades brasileiras e aplicados ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a sua esposa, Viviane Barci de Moraes, a Lei Magnitsky — criada para punir violações graves de direitos humanos e casos relevantes de corrupção. Segundo Washington, as ações foram motivadas também por violações judiciais ligadas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — atualmente em prisão domiciliar, enquanto aguarda o período de apelação de sua condenação a 27 anos e três meses de prisão por decisão do STF — e outros sete membros do “Núcleo Crucial” da denúncia, que articulavam uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Críticas

O anúncio de uma possível reunião entre Lula e Trump ganhou repercussão internacional, especialmente após meses de distanciamento político e retórica agressiva. Veículos de imprensa como The New York Times e The Washington Post destacaram a mudança de tom do presidente americano.

No entanto, o norte-americano não poupou críticas ao Judiciário brasileiro, alegando que há censura, perseguição e corrupção institucional no país. O discurso, que durou cerca de 1h, também direcionou críticas à própria ONU, acusando o organismo de “criar problemas em vez de resolvê-los” e defendeu sua política anti-imigração como modelo de segurança nacional.

‘Quadro complexo’

Ao Correio da Manhã, o internacionalista e diretor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), de Brasília, Ricardo Caichiolo, avaliou que a situação entre os dois países apresenta um quadro complexo, com sinais ambíguos. Para ele, as críticas apresentadas pelos líderes durante o evento reforçam a tensão e a divergência já existente. O especialista interpreta, porém, que a “sinalização amigável de Trump em relação a Lula foi, de fato, intrigante”. No entanto, observa que a tendência não é retroceder nas sanções já aplicadas, “pelo menos não de forma imediata”.

“A fala de Trump pode ser interpretada de diversas maneiras. Ele pode estar buscando um canal de diálogo para aliviar a tensão sem revogar as medidas de pressão já impostas. É possível que Trump esteja buscando um meio-termo, sinalizando que a porta para negociações está aberta, mesmo que as sanções permaneçam em vigor. Quanto à Lei da Reciprocidade, é pouco provável que Trump se sinta diretamente pressionado por ela neste momento”, explicou o internacionalista.

“Em resumo, a situação é volátil. As sanções demonstram a seriedade do atrito, enquanto a sinalização de Trump indica uma possível abertura para um diálogo, mas não necessariamente um recuo nas medidas já tomadas. A conversa na próxima semana será crucial para entender os reais desdobramentos desse cenário”, pontuou Caichiolo à reportagem.