Começam depoimentos para cassação de mandato de Carla Zambelli
Hacker Walter Delgatti reafirma que a parlamentar o contratou para invadir sistema do CNJ; ela nega
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados deu início aos depoimentos e o processo que dá início ao processo de cassação de mandato da deputada federal licenciada Carla Zambelli, que está presa na Itália. Nesta quarta-feira (10), a comissão ouviu os depoimentos do Walter Delgatti Neto, conhecido como o hacker de Araraquara, do assistente técnico da defesa na ação penal, Michel Spiero e da própria Carla Zambelli que se defendeu das acusações. Ainda não há prazo para o processo de análise do depoimento finalizar.
Em seu depoimento, ele reafirmou que a deputada licenciada ordenou a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e também pediu que ele inserisse um mandado de prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ele disse que conheceu Carla Zambelli em 2022 e que ela o contratou para comprovar que o sistema do CNJ era violável e, assim, desacreditar a segurança do sistema de justiça e eleitoral no Brasil. Ele ainda declarou que recebeu apoio financeiro da deputada e a promessa de um emprego – e que se arrependeu do ato quando a promessa não foi cumprida.
Em resposta, Zambelli acusou Delgatti de ser um “mitomaníaco”, ter compulsão por mentir e alterar sua versão dos fatos diversas vezes. Durante sua fala, ela reforçou em narrativas para desacreditar nas falas de Delgatti. Dentre um dos casos, ela desmentiu a informação de que Walter Delgatti teria ficado de 15 a 20 dias em sua casa, alegando que ele passou apenas algumas horas. O hacker negou ter mentido, mas admitiu que pode ter se confundido quanto aos depoimentos sobre datas, justificando a falta de noção de tempo pelo fato de estar preso.
Durante a sessão, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) declarou ser favorável à perda do mandato da parlamentar, comparando seus atos com as atuações dos réus do plano de tentativa de golpe de Estado para tentar manter Jair Bolsonaro no poder em 2022.
“Ela queria que fosse comprovado que o sistema era violável, e assim, ela definiu instruções específicas sobre as quais o sistema poderia ser demonstrado como violável. E então, ao definir essas questões ela se colocou, da mesma forma com que aqueles que, através dos kids pretos, tentaram a morte do presidente Lula e do vice Geraldo Alckmin, ela, Carla Zambelli, tentou a morte política das instituições e da democracia”, afirmou a parlamentar.
Entenda
Durante o período eleitoral em 2022, Carla Zambelli procurou o hacker Walter Delgatti para ele
invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e emitir um mandato falso de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que na época era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O hacker invadiu o sistema em janeiro de 2023 e assim o fez. Ambos foram indiciados pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, em abril de 2024 – Delgatti por executar a medida e Zambelli por ser a autora intelectual do caso. Segundo a PGR, a invasão virtual tinha o objetivo de colocar em dúvida a legitimidade da Justiça e incitar atos antidemocráticos. A denúncia foi acatada pela Primeira Turma do Supremo e a deputada federal licenciada foi condenada a dez anos de prisão.
Após a decisão do colegiado, ela fugiu do Brasil para a Itália. Inicialmente ela alegava que saiu para realizar tratamentos médicos, porém, pouco depois admitiu para a imprensa que a condenação no Supremo influenciou sua decisão de deixar o país. Como ela tem cidadania italiana, o plano inicial dela era se mudar para a Itália, onde ela acreditava estar protegida.
Contudo, a pedido da Polícia Federal (PF), o nome dela foi adicionado na lista de difusão vermelha da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal). A partir desse momento, ela virou uma fugitiva internacional e, dias depois, foi presa na Itália e deve ser extraditada de volta para o Brasil.
Delgatti, conhecido como “o hacker da Araraquara”, está preso desde agosto de 2023, em decorrência da Operação Spoofing da Polícia Federal (PF) – deflagrada em 2019 – que investiga o vazamento de conversas de autoridades, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes da operação Lava Jato.
