Desfile de 7 de Setembro une nacionalismo e compromisso ambiental

Público entoa 'sem anistia' em meio ao julgamento do STF sobre a tentativa de golpe de Estado

Por Karoline Cavalcante

Lula e Janja chegaram ao desfile no icônico Rolls Royce conversível

Sob o lema "Brasil Soberano", a Esplanada dos Ministérios foi palco, neste domingo, de um 7 de Setembro com tom institucional, simbólico e político. Com estimativa de 45 mil pessoas, o tradicional desfile cívico-militar celebrou os 203 anos da Independência do Brasil e apresentou uma narrativa voltada à valorização da soberania, ao protagonismo ambiental e aos investimentos estruturais do governo federal.

O evento, que durou pouco mais de duas horas, foi dividido em três grandes eixos temáticos: "Brasil dos Brasileiros", "COP30 e Novo PAC", e "Brasil do Futuro". Além das tradicionais apresentações das Forças Armadas, a cerimônia deste ano teve forte presença de símbolos ligados a políticas públicas e à agenda climática — como os mascotes Curupira, da COP30, e o tamanduá Labareda, das ações de manejo do fogo.

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao desfile ao lado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a “Janja”, no icônico Rolls Royce conversível. Em seu pronunciamento, transmitido na véspera do feriado, Lula reforçou a autonomia nacional e fez menções ao compromisso do Brasil com a preservação ambiental.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do desfile acompanhado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a “Janja”, no clássico conversível Rolls Royce presidencial. No pronunciamento transmitido na véspera do feriado, Lula destacou a autonomia nacional e fez acenos ao meio ambiente:

“Somos capazes de governar e cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro. Mantemos relações amigáveis com todos os países, mas não aceitamos ordens de quem quer que seja. O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro”, afirmou. “Reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia, que, em novembro, sediará a COP30, a maior conferência climática do planeta”, completou o chefe do Executivo.

“Sem anistia”

Na plateia, o público presente — composto por famílias, servidores públicos e estudantes — manifestou apoio ao presidente, mas também enviou sinais claros à classe política. A frase "sem anistia" foi entoada em coro, especialmente no momento da chegada do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), em referência à movimentação no Congresso Nacional para anistiar os envolvidos nos ataques do dia 8 de janeiro de 2023 — quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.

Apesar da presença massiva de ministros — incluindo nomes do centrão, como Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte), cujos partidos anunciaram recentemente o rompimento com o governo — o Supremo Tribunal Federal esteve ausente. O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, viajou à França, e o ministro Alexandre de Moraes, relator de processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados, também não compareceu, ao contrário dos anos anteriores.

Desfile

Além das tropas da Marinha, Exército e Aeronáutica, o desfile apresentou blocos temáticos que destacaram ações estratégicas do governo. O programa Pé-de-Meia, voltado ao combate à evasão escolar, levou estudantes ao centro da Esplanada, enquanto trabalhadores do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) marcharam com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), carregando faixas que exaltavam os investimentos em infraestrutura.

Outro ponto de destaque foi a participação inédita da banda sinfônica Neojibá, da Bahia, formada por jovens em situação de vulnerabilidade social. O grupo emocionou o público com execuções de obras como Aquarela do Brasil e Ponteio, além do Hino da Independência.

A apresentação da Esquadrilha da Fumaça atraiu os olhares ao céu da capital, como já é tradição. No chão, a presença do mascote Curupira, símbolo da COP30, e do tamanduá-bandeira Labareda, destacou o compromisso ambiental do país. Brigadistas florestais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), incluindo indígenas e representantes de comunidades tradicionais, desfilaram com veículos e equipamentos usados em operações de combate a incêndios.

Brasil Soberano

Em resposta aos símbolos nacionalistas utilizados por grupos bolsonaristas nos últimos anos, o governo apostou em um rebranding visual. Bonés com o lema "Brasil Soberano" nas cores verde, azul e amarelo foram distribuídos ao público, numa tentativa de resgatar o patriotismo para além das polarizações políticas. Uma bandeira nacional de 140 metros quadrados foi carregada por dezenas de pessoas durante o desfile.

Em meio ao julgamento de Bolsonaro e ao receio de manifestações de rua, o evento teve segurança reforçada, sob coordenação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com apoio da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e forças locais. O monitoramento foi intensificado durante a semana, mas, segundo as autoridades, não houve registros de anormalidades ou tentativas de mobilização extremista nas proximidades.