Por: Karoline Cavalcante

União Brasil entre o governo e a oposição: dilema estratégico molda saída de Celso Sabino

Decisão da sigla de pressionar pela saída do ministro tem forte carga simbólica | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O União Brasil, que ocupa um espaço considerável na Câmara dos Deputados, se encontra no epicentro de uma crise política que vai além da saída do ministro do Turismo, Celso Sabino. Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político Elias Tavares avaliou que a situação do partido, que em plena articulação para as eleições de 2026 vê sua bancada se distanciar do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reflete um dilema estratégico complexo: como equilibrar a participação no governo com a necessidade de se reafirmar como uma alternativa viável ao eleitorado conservador.

Segundo Tavares, a decisão da sigla de pressionar pela saída do ministro tem forte carga simbólica. “Para a cúpula da legenda, romper agora significa enviar um sinal de coerência política, mostrando que o partido não ficará preso a cargos enquanto busca espaço para disputar 2026 com mais nitidez. Por outro lado, abandonar o governo implica abrir mão de recursos federais e da influência executiva que garantem sustentação a prefeitos e lideranças regionais. Essa tensão atravessa a própria bancada, que não é homogênea: parte tende a manter diálogo com o Planalto, mesmo após uma ruptura formal”, explicou.

Já para o governo Lula, a saída não deve ser vista como um colapso imediato, mas certamente dificulta a já fragilizada base de apoio no Congresso. “Perder 59 votos potenciais fragiliza a base em votações-chave, ainda que o Executivo siga contando com apoios circunstanciais de deputados do partido em determinadas pautas. É mais um capítulo da dificuldade que o Planalto enfrenta para manter coesão em uma base já fragmentada”, afirmou o especialista.

2026

O cenário para o pleito no próximo ano, no entanto, é onde se desenham as maiores disputas. A federação União Brasil – Progressistas (PP), busca fortalecer uma aliança que já se projeta como um dos principais blocos de oposição nas eleições. De acordo com Elias, nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparecem como opções naturais para representar a sigla no campo da centro-direita, com potencial para se distanciar do bolsonarismo sem romper completamente com a base conservadora.

Outros governadores com perfil regionalista, como o de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também aparecem como alternativas regionais com densidade própria, “mas a lógica é buscar quem consiga consolidar a narrativa de oposição sem se limitar ao discurso radical”.

“Minha avaliação é que o União Brasil aposta que o desgaste de cargos será compensado por maior coerência eleitoral. Ao se recolocar como oposição, a legenda tenta capturar votos do campo conservador e se credenciar como protagonista em 2026. Para o governo, é um movimento que fragiliza, mas não inviabiliza a articulação: Lula seguirá buscando acordos caso a caso, com mais custo político”, finalizou Tavares à reportagem.

Saída

O ministro comunicou na última sexta-feira (19), sua decisão de deixar o cargo a Lula. A saída ocorre em meio a um novo movimento do União Brasil, que determinou a exoneração de todos os seus membros ocupantes de cargos no governo federal. A ordem, emitida na quinta-feira (18), exigia que os filiados entregassem suas funções em um prazo de 24 horas, reforçando o distanciamento da sigla da base de apoio do governo.

Sabino, que assumiu o Ministério do Turismo em julho de 2023, estava à frente de importantes iniciativas, como a organização da COP30, que acontecerá em Belém (PA), em novembro deste ano. Durante uma reunião de mais de uma hora no Palácio da Alvorada com o presidente, o chefe da Pasta detalhou a pressão interna da sigla e expressou seu desejo de cumprir compromissos ainda em andamento.

A decisão do partido de intensificar seu desembarque do governo foi tomada após a divulgação de investigações que associam o presidente nacional do União Brasil, Antonio Rueda, a uma possível ligação com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Embora Rueda e a legenda tenham negado as acusações, a situação gerou um clima de tensão, com a sigla alegando que o governo poderia estar envolvido na divulgação dessas informações.

Após a saída de Sabino, a especulação sobre seu sucessor no Ministério do Turismo já começou. Sabino manifestou seu desejo de ver a atual secretária-executiva da pasta, Ana Carla Lopes, assumindo o cargo. O governo, por enquanto, não se pronunciou oficialmente sobre. O movimento de desembarque do União Brasil não afeta apenas Sabino, mas também outros ministros da sigla. Waldez Góes, do Desenvolvimento Regional, e Frederico Siqueira, das Comunicações, permanecem no governo, já que não são filiados ao União Brasil, mas sim indicados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Além disso, a movimentação política do União Brasil é um reflexo de sua crescente força no Congresso após a formação de uma federação com o Progressistas, o que ampliou sua bancada. Com 109 deputados e 15 senadores, a federação agora é a maior bancada da Câmara dos Deputados e a segunda maior do Senado. A pressão por uma maior participação no governo e as recentes movimentações políticas dentro da sigla indicam que o União Brasil está reavaliando sua posição em relação à gestão Lula.