Por: Karoline Cavalcante

Condenação de Bolsonaro e a relação Brasil X EUA: O impacto político e diplomático

Trump comparou caso Bolsonaro com as acusações que teve após o ataque ao Capitólio | Foto: Alan Santos/PR

A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) trouxe à tona não apenas uma disputa interna, mas também uma tensão crescente nas relações diplomáticas externas. Em um artigo de opinião publicado pelo The New York Times, os acadêmicos Steven Levitsky — coautor do livro “Como as Democracias Morrem” —, e Filipe Campante compararam o contexto entre os países, sublinhando que “o Brasil teve sucesso onde os Estados Unidos falharam”.

No âmbito do julgamento, o governo dos EUA, liderado pelo presidente Donald Trump (Republicano), já demonstrou descontentamento por meio de ações punitivas, como a recente imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e a aplicação da Lei Magnitsky — criada para punir violações graves de direitos humanos e casos relevantes de corrupção — contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso. Na última semana, representantes do governo norte-americano, como o secretário de Estado Marco Rubio, têm reforçado a narrativa de que o processo contra o ex-presidente brasileiro é uma "caça às bruxas". Por outro lado, a resposta brasileira, defendida pelo Ministério das Relações Exteriores, reiterou a independência do Judiciário brasileiro, desafiando as pressões externas.

Sanções

O Correio da Manhã entrevistou especialistas para entender melhor o cenário. Na avaliação do professor de Relações Internacionais e Economia do Ibmec de São Paulo, Alexandre Pires, embora a possibilidade de novas sanções contra os responsáveis pelas investigações seja concreta, dificilmente haverá uma penalidade ampla contra o Brasil. No entanto, ele aponta que o líder da Casa Branca não tende a recuar nas já impostas. “Para os Estados Unidos, o custo do atrito com o Brasil é baixo economicamente e geopoliticamente. Não há razão para uma reversão de direção sem que ocorra uma negociação segundo os termos já expostos por Trump na carta a Lula sobre o tarifaço”, explicou Pires.

De acordo com o coordenador de Direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Marcelo Crespo, é possível que outros ministros do STF se tornem alvos da Lei Magnitsky, mas ele acredita que as ações de retaliação dos EUA tendem a ser mais retóricas do que concretas, dado que o Brasil não está isolado como outros países onde os EUA já intervieram. “Afinal de contas o Trump tem muitos interesses e certamente o Brasil não é sua única preocupação. Então fica a pergunta: até quando ele dará importância para Bolsonaro? O tempo dirá até quando isso será interessante para ele”, observou Crespo.

O cenário que se desenha sugere um cenário de crescente tensão entre os países. Em declarações públicas, o presidente estadunidense comparou seu próprio caso de acusações após o ataque ao Capitólio em 2021 com a situação de Bolsonaro. Para ele, a condenação do brasileiro reforça um padrão de perseguição política que os Estados Unidos enfrentaram de maneira similar. No entanto, segundo o professor de Direito Internacional Manuel Furriela, as sanções já implementadas pelos EUA geraram um desgaste político considerável. “Adicionalmente, essas ações produziram um efeito contrário no Brasil, com a população considerando-as inadequadas e potencialmente prejudiciais à economia”, apontou o professor.

Para Furriela, medidas de maior severidade são consideradas improváveis, apesar de causarem grande desgaste político ao presidente norte-americano. “Embora Trump mantenha seu discurso, é provável que as ações futuras sejam mais cautelosas, considerando os riscos e custos associados a medidas mais agressivas”, completou.

Mundo

A repercussão internacional da condenação foi ampla, com veículos como The Guardian, Reuters e El País destacando a importância do julgamento. Para o The New York Times, a condenação de Bolsonaro representa um contraste com a falta de ações concretas contra Trump nos Estados Unidos, refletindo uma linha tênue entre os dois países no que diz respeito à resposta a ataques à democracia. Já o The Guardian alertou para o potencial de novos episódios de instabilidade no Brasil, lembrando o voto divergente de Luiz Fux, ministro do STF, que se posicionou contra a condenação de Bolsonaro, o que abre caminho para possíveis contestações.

O Washington Post e o Wall Street Journal também destacaram o impacto político da condenação sobre o cenário eleitoral brasileiro, observando que, apesar da condenação, Bolsonaro ainda mantém um papel relevante na política nacional e poderá influenciar as eleições de 2026, principalmente ao indicar um possível sucessor.