Por: Bianca Lobianco

Moraes Sobre Ramagem: 'Isso não é uma mensagem de um delinquente do PCC para outro, mas de um então presidente da ABIN para o Presidente da República'

Alexandre de Moraes comparou falas de Alexandre Ramagem e Bolsonaro a integrantes de facções criminosas como o PCC | Foto: Gustavo Moreno/STF

Alexandre de Moraes comparou as ações do ex-presidente da Abin, Alexandre Ramagem com a de um integrante da facção criminosa PCC durante seu voto no julgamento dos oitos réus acusados de tentativa de golpe de Estado. Em suas palavras para Jair Messias Bolsonaro, Ramagem tentou tirar a credibilidade do sistema de urnas eletrônicas durante as eleições de 2022. O réu teria dito a Bolsonaro de que "as urnas já estavam sem credibilidade, assim como os Ministro do Supremo Tribunal Federal"

"Isso não é uma mensagem de um integrante delinquente do PCC para outro, mas de um então presidente da ABIN para o Presidente da República", indignou-se o relator do caso que ratificou que os oito acusados atuaram, sim, como uma organização criminosa. 

"O núcleo atuava tanto como central de disseminação de desinformação, quanto para ataques de seus adversários políticos'

Durante a argumentação de seu voto, o juiz do STF criticou exaustivamente o general Augusto Heleno por anotações em uma agenda para deslegitimar as instituições para se perpetuar no poder. De acordo o relator, as anotações feitas à mão em uma agenda e documentos com "pensamentos" sobre urna eletrônica foram os atos iniciais de uma tentativa de golpe de Estado em benefício do ex-presidente Jair Bolsonaro, e que esses itens provam a existência da trama. Ao fazer a afirmação, Moraes afasta um dos principais argumentos de algumas defesas, de que essas provas seriam apenas cogitações e ideias que não poderiam ser consideradas atos criminosos.

Moraes fez referência e mostrou imagens de uma agenda pertencente ao general de Exército Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e um dos oito réus na ação. Apreendida pela Polícia Federal, a agenda continha anotações sobre passos para gerar descrédito no processo eleitoral.

“Não é razoável achar normal que um general quatro estrelas do Exército, ministro do GSI, tenha uma agenda com anotações golpistas, tenha uma agenda preparando a execução de atos para deslegitimar as eleições, o Poder Judiciário e para se perpetuar no poder”, disse o ministro. “Não consigo entender como alguém pode achar normal, em pleno século XXI, uma agenda golpista”, reiterou o relator.

Em um slide durante sua argumentação do voto, Alexandre de Moraes mostrou um slide no qual credita o ex-presidente do Executivo como líder e chefe da organização criminosa. 

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Moraes coloca Jair Messias Bolsonaro como líder de organização criminosa na tentativa de golpe de estado e afirma que general Heleno estava na live para mostrar coerção e poder | Foto: Reprodução STF

Fake News disseminadas no 'Gabinete do ódio' para se perpetuar no poder

Além de forjar informações de conversas entre ministros do STF com o banco Itaú. A utilização de todas essas produções em lives pelo ex-presidente Jair Bolsonaro deu a sequência do plano de deslegitimar o sistema eletrônico do voto. "A partir da live que criou-se o 'Gabinete do ódio' para a disseminação de fake news para atentar contra os poderes constituídos através de milícias digitais, com um complexo sistema de financiamento de inúmeros robôs para atentar contra os poderes constituídos, de forma criminosa. Para obstruir o funcionamento da justiça eleitoral e atentar contra o poder judiciário e garantir a manutenção de seu grupo político no poder". 

Em live realizada em 29 de julho de 2021, um cartaz escrito 'Voto Impresso e Auditável', além de uma série de vociferações e supostas provas de que teria informações de que as urnas haviam sido adulteradas. Nesta live os réus general Augusto Heleno e Anderson Gustavo Torres estavam presentes mostrando coerção e respaldo de poder, dado seus devidos cargos à época.