Em todas regiões do país, brasileiros saíram às ruas, neste domingo (7), para comemorar o Dia da Independência, um dos mais politizados dos últimos anos.
Com a bandeira da soberania e críticas ao projeto que a Câmara discute para anistiar os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, parlamentares aliados ao governo disseram, em discursos, que a proposta é inconstitucional e que, por isso, não tem chances de avançar.
Em São Paulo, centrais sindicais e lideranças de esquerda se reuniram na manhã de hoje na Praça da República, em um contraponto aos atos bolsonaristas que pedem anistia aos golpistas, exibem bandeiras dos Estados Unidos e fotos do presidente Donald Trump e atacam o Supremo Tribunal Federal (STF).
Nas manifestações de apoiadores do governo, foram alvo de críticas a interferência dos Estados Unidos no país e as sanções já aplicadas pelo governo Trump, como a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo do STF que pode resultar na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.
O ato contou com a presença de ministros do governo Lula, como Alexandre Padilha (Saúde) e Luiz Marinho (Trabalho), além do presidente nacional do PT, Edinho Silva (PT), e os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Érika Hilton (PSOL). Por volta das 11h, os participantes ocupavam parcialmente a Praça da República, no centro.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) disseram que não há chances de o projeto de anistia avançarem no Congresso.
“Nossa Constituição é clara: crime contra a pátria não cabe nem anistia, nem indulto. O Congresso Nacional tem que assumir sua responsabilidade. Se votar questões inconstitucionais, elas serão vetadas, e o Supremo terá de avaliar”, disse Marinho.
Boulos destacou a importância de a esquerda retomar o 7 de Setembro após a “cooptação” da data pelos bolsonaristas. “A esquerda vir às ruas no 7 de Setembro é uma expressão de quem defende o Brasil. Hoje, quem defende o Brasil é quem está ao lado do nosso povo contra as agressões dos Estados Unidos, e não quem está lambendo as botas de Trump”, afirmou o parlamentar.
Boulos também criticou Bolsonaro por apelar pela anistia e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se tornou um dos principais articuladores da proposta.
“Bolsonaro subia em um caminhão e ficava xingando todo mundo; agora, fica implorando por anistia, com Tarcísio cumprindo esse papel lamentável de ir a Brasília para tentar ser o candidato do Bolsonaro à Presidência”, disse Boulos.
A respeito do julgamento do ex-presidente, o deputado afirmou que sua expectativa é pela prisão, o que será comemorado por ele com um "churrasco".
O presidente nacional do PT, Edinho Silva, ressaltou, em seu discurso, a importância de punir os responsáveis pela tentativa de golpe, dizendo confiar no “bom senso dos parlamentares” com relação ao tema.
“Não podemos banalizar nem normalizar aquilo que é grave, nós tivemos um resultado eleitoral. Aqueles que perderam as eleições organizaram uma tentativa de golpe, e o pior, organizaram o assassinato do presidente vitorioso, do vice. Se nós banalizarmos isso, nós teremos aberto o precedente que toda vez que alguém perder as eleições, se sinta no direito de organizar golpe e assassinar os vitoriosos”, afirmou.
Também esteve na pauta do ato em São Paulo a taxação dos super-ricos, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e a redução da jornada de trabalho sem redução salarial.
Os atos são organizados cerca de 40 cidades de 23 estados e o Distrito Federal pela Frente Povo Sem Medo, que reúne o MST e o MTST, e por movimentos sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).
Ato pela anistia
A Praia de Copacabana, na Zona Sul Rio de Janeiro, foi palco de uma das principais manifestações bolsonaristas neste domingo. O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, participou do evento.
Em vídeo publicado nas redes sociais, o parlamentar aparece vestindo uma camiseta com o rosto do pai e a frase ‘Bolsonaro 2026’, embora o ex-presidente esteja inelegível, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No vídeo, ele diz que o ato vai "mostrar pro mundo que defende a liberdade". Os manifestantes exibiram bandeiras dos Estados Unidos e faixas com palavras de ordem contra o STF.
Com cartazes, bandeiras do Brasil e discursos de lideranças políticas e religiosas, os participantes também defenderam pautas como liberdade de expressão e fizeram críticas ao Judiciário.
Participantes, que abriram o ato entoando o Hino Nacional Brasileiro, exibiram mensagens de apoio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Uma das faixas exibidas no ato trazia a seguinte frase: "Golpe é eleição sem Bolsonaro. Anistia já."
Também foi reproduzido um áudio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em que ela diz haver perseguição política no país.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), manifestou apoio ao ex-presidente e puxou um coro com as frases: “Bolsonaro inocentado” e "Não existe golpe".
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o último a discursar e disse: “Não existe anistia criminal sem anistia eleitoral”. Em seguida, os participantes gritaram “Fora Moraes”.
Bandeira gigante dos EUA
Além do ato em Copacabana, outros foram realizados no dia de hoje. Na Avenida Paulista, bolsonaristas estenderam uma bandeira gigante dos Estados Unidos. Havia outros símbolos norte-americanos, como cartazes escritos em inglês, além de manifestantes vestidos de Tio Sam e usando chapéu do Pateta. Havia ainda máscaras e balões da Minnie e do Mickey Mouse.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que segue nos Estados Unidos articulando ataques do governo norte-americano ao Brasil, compartilhou em seu perfil no X (ex-Twitter) uma gravação feita por drone, dizendo que a “grande bandeira dos EUA pode ser vista em agradecimento ao presidente [Trump]”.
O ato 'Reaja Brasil' foi realizado em São Paulo e em outras capitais do país, após convocação do pastor Silas Malafaia.
A presença de símbolos dos Estados Unidos nas manifestações do Dia da Independência do Brasil foi criticada pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ). Ele classificou como “inacreditável” a iniciativa dos bolsonaristas.
“Na história política do Brasil nós nunca tivemos um agrupamento político […] tão antinacional e antibrasil, que defende os interesses de uma potência estrangeira dos Estados Unidos como eles fazem. Não é só sanção contra ministro do Supremo. Eles se orgulham das tarifas contra empresas e empregos”, disse Lindbergh.