Baixa adesão à COP30 preocupa governo e autoridades

Menos de 30% dos países confirmaram hospedagem na conferência do clima em Belém

Por Gabriela Gallo

Construção do parque onde será realizada a COP30

Faltando menos de três meses para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), prevista para 10 de novembro em Belém (PA), somente 47 dos 196 países previstos confirmaram hospedagem para participar. As informações foram divulgadas pela secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e pelo secretário Extraordinário para a COP 30, Valter Correia. O número é preocupante, pois revela que somente 23,97% dos países esperados para a maior conferência internacional sobre mudanças climáticas confirmou presença até agora.

Para a reportagem, a assessoria de imprensa para a COP 30, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), informou que 39 países reservaram e pagaram suas hospedagens em Belém pela plataforma oficial do governo (Bnetwork) e oito países reservaram e pagaram hospedagens através de outras plataformas. “Mas é importante ressaltar que são 47 países que já pagaram sua hospedagem, e não que confirmaram a participação na COP30 em si. Em relação ao número de delegações, os 196 já manifestaram interesse em participar da COP30 em Belém”, manifestou a comunicação do evento.

Segundo Valter Correia, os oito países que realizaram reservas separadamente foram: Egito, Espanha, Portugal, República do Congo, Singapura, Arábia Saudita, Japão e Noruega.

Hospedagem

A baixa confirmação de hospedagem acende um alerta para os organizadores do evento e o público em geral, que temem que o evento não tenha sucesso ou, pelo menos, não do jeito que o governo federal espera.

Ao Correio da Manhã, o professor de Economia do Ibmec Brasília João Gabriel Araújo disse que o risco da conferência estar vazia em novembro “é muito alto, visto o custo de estadia no Pará”.


“Algumas hospedagens têm se elevado de valores que seguem nas casas dos centenas de milhares de reais. Então, há esse risco de não conseguir fechar os acordos necessários, que serão com referência às mudanças climáticas mundiais”, afirmou o professor. O problema, para a assinatura de acordos, é a possível falta de representatividade internacional pela baixa presença de países.

Dentre os acordos que precisam ser firmados na conferência, ele citou o Tropical Forest Facility Forever (TFFF), um fundo internacional para a preservação das florestas tropicais, que se abrange para a Amazônia. “A floresta amazônica possui o fundo Amazônia como um mecanismo de preservação, mas o fundo Amazônia não é um fundo que traz retorno financeiro para os investidores. No caso do TFFF, ele tem uma perspectiva de trazer retornos financeiros para os países e os investidores que injetarem dinheiro nessa preservação”, explicou Araújo.

Por outro lado, a reportagem também conversou com o coordenador de Sustentabilidade da BMJ Consultores Felipe Ramaldes, que destacou que, mesmo que as delegações presentes no Brasil sejam menores do que o esperado, as principais lideranças estarão presentes

“A essência do evento está nos negociadores e em parte de lideranças que têm grande influência no processo de negociação. E essas essencialmente vão estar no evento. Existe uma sensação de que essas pessoas têm um compromisso entre si de avançar com esses pontos. Existe um interesse mútuo no avanço desses pontos até porque estamos falando da questão climática, que é um risco global. Então, considerando esse risco global, as lideranças que estão empenhadas na pauta vão participar”, ele disse ao Correio.

Em relação aos preços elevados da hospedagem, Ramaldes pontuou que, considerando a lei da oferta e demanda, á medida que a data do evento for se aproximando, “a tendência é que os preços caiam”.

“Teve o caso de Glasgow [COP 26, que ocorreu na Escócia], quando se cogitou transferir o evento para Londres e acabou não acontecendo. Quando vai se aproximando da COP o preço cai. Por mais que no Brasil esses preços estejam ainda mais altos do que a média global, isso é uma característica da cidade de Belém, da realidade local. Mas a tendência de movimento é muito semelhante, que é um movimento de queda dos preços à medida que há um questionamento e das delegações de estarem tão grandes e tão presentes da mesma forma”, detalhou o coordenador de sustentabilidade.

Apesar do otimismo de Felipe Ramaldes quanto aos elevados preços das hospedagens paraenses, o professor de economia ainda avalia que o governo federal precisa intervir nas cobranças de estadias. “Foram identificados preços abusivos. Então, uma das medidas que o deve fazer é justamente essa medida de reajuste de preço imobiliário, para que possa facilitar o acesso, em especial, de países menos favorecidos economicamente. Com isso, o principal ponto que deve ser apresentado aqui pelo governo brasileiro são as possíveis tratativas de acordos internacionais climáticos que venham a favorecer, em especial, as arrecadações, as condições empresariais e financeiras do resto do mundo”, reforçou João.

Resposta

Para o Correio da Manhã, o governo do Pará respondeu que “vem adotando uma série de soluções para ampliar a oferta de hospedagem em Belém e na região metropolitana durante a COP?30”.

Além da rede hoteleira já existente, estão em construção novos hotéis, como o Vila COP, que contará com 405 leitos para delegados e líderes. A União contratou navios para hospedagem flutuante, e escolas da rede estadual estão sendo adaptadas no padrão hostel para receber visitantes. Também foram estimulados o aluguel de temporada e parcerias com plataformas digitais para ampliar a disponibilidade de leitos”, afirmou o governo, por meio de nota.

“Ainda no âmbito dos leitos, o governo federal garantiu reservas de 2.500 quartos individuais a valores entre 100 a 600 dólares, para todas as 196 partes. Para isso, o plano de acomodação prevê a divisão dos países em dois grupos. No primeiro, estão 73 nações que, de acordo com parâmetros da ONU, são Países Menos Desenvolvidos (LDC) e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEID). Serão reservados 15 quartos por delegação, que custarão entre 100 e 200 dólares. Já no segundo estão os outros países, que terão direito garantido de 10 quartos por delegação, com custo entre 200 e 600 dólares”, completou a nota.

O governo ainda afirmou que a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) mobilizou um grupo de trabalho – que conta com Defensoria Pública, Procon, Ministério Público, Procuradoria-Geral do Estado do Pará, Secretaria Nacional do Consumidor e a Polícia Civil do estado – para coibir práticas abusivas de hospedagem. “O objetivo é dar tranquilidade a quem vem a Belém e garantir que a conferência aconteça com organização e justiça”, reiterou para a reportagem.