PF indicia Bolsonaro e Eduardo por coação e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito
Investigação apura ação de Eduardo nos EUA para interferir no andamento do processo que investiga tentativa de golpe de Estado após eleições de 2022
A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nesta quarta-feira (20), por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito ao interferir no exercício dos poderes constitucionais.
A investigação tem relação com a ação de Eduardo nos Estados Unidos para interferir no andamento do processo no Brasil que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado ocorrida entre 2022 e 2023 no Brasil, após o ex-presidente perder as eleições.
O relatório da PF será encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se irá apresentar denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou arquivar o caso. Caberá ao Ministério Público avaliar se as provas reunidas sustentam a acusação formal contra Bolsonaro e Eduardo.
A minuta apresentada pela PF revela que o ex-presidente elaborou uma carta ao presidente da Argentina, Javier Milei, pedindo asilo político.
“De inicio, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares. Para decretação de tais medidas foram mencionados os delitos dos Arts. 359-1 e 359-M do Código Penal brasileiro”, diz a carta de Bolsonaro.
De acordo com a PF, Bolsonaro, Eduardo e o pastor Silas Malafaia trocavam áudios que reforçam acusações contra os três.
Silas Malafaia
No início desta noite, a PF também cumpriu mandado de busca pessoal e apreensão de aparelhos celulares contra Silas Malafaia. Ele retornava de viagem a Lisboa e foi abordado no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro (RJ).
Também foram executadas medidas cautelares a Malafaia, entre elas a proibição de deixar o país e de manter contato com outros investigados. Malafaia teve o nome incluído na quinta-feira (14) no inquérito que apura a suposta obstrução de Justiça.
Malafaia é investigado por suposta participação em crimes de coação no curso do processo (artigo 344 do Código Penal), obstrução de investigação envolvendo organização criminosa (Lei 12.850/2013) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (artigo 359-L do Código Penal). As investigações são desdobramentos do Inquérito (INQ) 4995, que apura condutas do deputado federal Eduardo Bolsonaro e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Um áudio de Silas Malafaia enviado a Bolsonaro foi incluído no relatório da PF que resultou no indiciamento de Bolsonaro e Eduardo. Na gravação, Malafaia elogia a atuação de Flávio Bolsonaro e critica a postura de Eduardo, a quem chama de "nacionalista". Na gravação, ele diz ao ex-presidente que repreendeu o filho "Zero3", que está nos Estados Unidos desde o primeiro trimestre.
"Com o Brasil, é sobre você, cara. A faca e o queijo estão na sua mão", diz Malafaia a Bolsonaro e, antes de xingar Eduardo, acrescenta: "E não podemos perder isso".
Reação de Eduardo
Eduardo Bolsonaro publicou um texto na noite desta quarta-feira em resposta ao relatório divulgado pela PF. Na publicação, ele afirma que sua atuação nos Estados Unidos jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil, e que sempre deixou claro que busca o restabelecimento das liberdades individuais no país, por meio da via legislativa.
"Tomei conhecimento, pela imprensa, do relatório divulgado pela Polícia Federal e considero importante esclarecer alguns pontos:
1. Minha atuação nos Estados Unidos jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil. Sempre deixei claro que meu pleito é pelo restabelecimento das liberdades individuais no país, por meio da via legislativa, com foco no projeto de anistia que tramita no Congresso Nacional.
2. Causa espanto que a Polícia Federal (PF) aponte supostos partícipes de um crime absolutamente delirante, mas não identifique os autores. Se a tese da PF é de que haveria intenção de influenciar políticas de governo, o poder de decisão não estava em minhas mãos, mas sim em autoridades americanas, como o presidente Donald Trump, o Secretário Marco Rubio ou o Secretário do Tesouro Scott Bessent. Por que, então, a PF não os incluiu como autores? Omissão? Falta de coragem?
3. Vivo sob a jurisdição americana e, portanto, plenamente amparado pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que assegura não apenas a liberdade de expressão, mas também o direito de peticionar nossas demandas ao governo que rege a nossa jurisdição.
4. É lamentável e vergonhoso ver a Polícia Federal tratar como crime o vazamento de conversas privadas, absolutamente normais, entre pai e filho e seus aliados. O objetivo é evidente: não se trata de justiça, mas de provocar desgaste político.
5. Se o meu “crime” for lutar contra a ditadura brasileira, declaro-me culpado de antemão", escreveu o deputado.