Eduardo Bolsonaro volta a boicotar o Brasil

Deputado licenciado e Paulo Figueiredo foram a Washington pressionar por novas medidas contra o país

Por Karoline Cavalcante

Com a licença expirada, Eduardo pressiona por sanções

O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o empresário Paulo Figueiredo estão de volta a Washington, capital dos Estados Unidos, para mais uma rodada de negociações com autoridades norte-americanas. O encontro, que aconteceu na quarta-feira (13), visou pressionar por mais retaliações impostas pela Casa Branca contra o Brasil e, mais especificamente, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

A informação foi confirmada por Figueiredo em suas redes sociais, e ocorre em um contexto de crescente tensão diplomática. Ambos os representantes buscam alinhar discursos e ampliar as medidas punitivas, com o empresário destacando que a viagem não tem como objetivo buscar mais penalidades, mas sim "liberdade". Para ele, as sanções são apenas um meio para alcançar esse fim.

Em outra publicação, Paulo fez referência a uma declaração da Embaixada dos EUA no Brasil, que defende que nenhum poder, nem mesmo uma pessoa, pode acumular autoridade excessiva, caso seja controlada por outros poderes. O depoimento enfatizou que a separação formal de poderes não tem valor se um deles for capaz de intimidar os demais a abrir mão de suas prerrogativas constitucionais.

Figueiredo aproveitou o momento para mencionar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem sido alvo de críticas da oposição. Recentemente, Motta encaminhou à Corregedoria da Casa Baixa pedidos de afastamento por até seis meses de 14 deputados da oposição, envolvidos nos atos que pedem o impeachment de Moraes. “Alguém nestas condições pode continuar ocupando a presidência da Casa? É uma discussão que talvez precisemos enfrentar em breve…”, afirmou o empresário.

Articulações

Eduardo já havia antecipado ao portal Metrópoles que o governo dos EUA considera incluir a mulher de Moraes, Viviane Barci, na Lei Magnitsky — criada para punir violações graves de direitos humanos e casos relevantes de corrupção —, assim como o marido. A inclusão de um indivíduo nessa lista implica, além da revogação do visto e da proibição de entrada em território norte-americano, a restrição de transações com pessoas físicas e jurídicas sediadas nos país norte-americano. A medida retaliatória alega que o magistrado promoveu “prisões arbitrárias” e a “supressão da liberdade de expressão”, além de direcionar suas decisões contra figuras da oposição, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu no STF por suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. O documento também menciona a imposição de restrições a plataformas de mídia social sediadas nos Estados Unidos.

Entre 2013 e 2016, Figueiredo e o ex-presidente Donald Trump foram sócios em um empreendimento hoteleiro no Rio de Janeiro, o que consolidou um vínculo entre ambos. Atualmente, o empresário tem exercido influência nas pautas defendidas por Eduardo Bolsonaro, que, desde que se licenciou do mandato em março, tem se dedicado ativamente a defender a imposição de sanções contra autoridades brasileiras. A justificativa para seu afastamento foi a denúncia de supostas violações de direitos humanos no Brasil. De acordo com informações do jornal Financial Times, Eduardo planeja expandir sua campanha de sanções para além dos Estados Unidos. Ele está se preparando para uma viagem à Europa, onde buscará apoio para a aplicação de restrições contra Moraes também em países da União Europeia.

Distorção

No meio desse cenário diplomático, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente a atuação de Eduardo, acusando-o de fornecer informações distorcidas ao governo dos Estados Unidos. Em entrevista à rádio BandNews FM, o chefe do Palácio do Planalto afirmou que Trump, ao apoiar Bolsonaro, age movido por desinformação e falta de compreensão da realidade política brasileira.

"Espero que algum dia eu possa encontrar com o presidente Donald Trump e conversar como dois seres humanos civilizados, dois chefes de Estado, como deve ser a relação", disse Lula.

Nos últimos dias, representantes de Washington voltaram a criticar as autoridades brasileiras. Ainda nesta quarta-feira, o secretário de Estado do governo dos EUA, Marco Rubio, afirmou que o órgão está tomando medidas para revogar vistos e impor restrições a vários funcionários do governo brasileiro.

Em publicação publicada no X, também afirmou que o programa federal Mais Médicos — iniciativa para levar médicos a regiões com carência ou ausência desses profissionais —, foi "um golpe diplomático inconcebível". A fala acontece após o anúncio de que o país norte-americano está expandindo sua política de restrição de vistos para Cuba, “bem como a indivíduos responsáveis pelo programa exploratório de exportação de mão de obra cubana”.

Na terça-feira (12), o Departamento de Estado dos Estados Unidos já havia divulgado um relatório sobre a situação dos direitos humanos ao redor do mundo em 2024. O documento, que possui 14 páginas, afirma que houve um declínio ao longo do ano no que diz respeito ao tema no Brasil. “Os tribunais tomaram medidas amplas e desproporcionais para minar a liberdade de expressão e a liberdade na internet, bloqueando o acesso de milhões de usuários a informações em uma importante plataforma de mídia social em resposta a um caso de assédio”, diz o trecho.