Sabotados por Eduardo, senadores vão ao EUA em busca de diálogo
Ao Correio, Nelsinho Trad destacou que missão não se trata de disputa política
A partir desta segunda-feira (28), começam os trabalhos dos oito senadores representantes da comissão temporária externa para tratar das tarifas de 50% a produtos brasileiros que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça impor sobre o Brasil a partir de sexta-feira (1º). A previsão é que no primeiro dia os representantes brasileiros conversem com empresários estadunidenses, e na terça (29) e quarta-feiras (30), se reúnam com congressistas norte-americanos. Os parlamentares brasileiros viajaram para Washington, capital dos EUA, nesta sexta-feira (25).
A comitiva é presidida pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Nelsinho Trad (PSD-MS), que convocou a viagem. O comitê também será composto pelos senadores titulares Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, Tereza Cristina (PP-MS) e Fernando Farias (MDB-AL). Além deles, também compõem a comitiva os senadores suplentes Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG).
A comitiva cumpre ao mesmo tempo um papel político importante e delicado. Importante porque insere o Congresso Nacional nos esforços para tentar evitar o tarifaço ameaçado por Trump. Delicado porque, nos Estados Unidos, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduard Bolsonaro, tenta declaradamente fazer com que a missão não tenha sucesso. Esta semana, ele chegou a classificá-la como um “desrespeito” a Trump. E tem envidado esforços para que parlamentares ligados ao Partido Republicano, o mesmo de Trump, não recebem os senadores brasileiros.
Diálogo
Uma das críticas de Eduardo é que a comissão não teria capacidade de negociação com o governo dos Estados Unidos para reverter a situação (que, aliás, está muito concentrada no próprio Trump).
Ao Correio da Manhã, Nelsinho Trad ressaltou que o comitê não tem essa pretensão. Ele reconhece que não terá um papel central de negociação, mas de diálogo entre congressistas e representantes dos dois países – um dos motivos para os senadores selecionados terem alguma ligação ou relevância com categorias de comércio e relações norte-americanas.
“Vamos com o propósito de abrir canais de diálogo e levar a preocupação legítima do Brasil com os impactos das tarifas. Nosso papel não é negociar, mas mostrar, com dados, que essa medida prejudica setores produtivos dos dois lados. É uma agenda de defesa institucional, que busca preservar empregos, cadeias de valor e relações comerciais históricas com os Estados Unidos. A presença do Senado é um gesto político claro de que o Brasil quer conversar”, destacou o senador para a reportagem.
Ex-ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) anunciou por meio de suas redes sociais que está se deslocando pessoalmente para os Estados Unidos junto com a comitiva para “tentar retomar um diálogo essencial que foi interrompido”. Tereza Cristina foi a mais incisiva de que considera as tarifas impostas a produtos brasileiros como desiguais.
“A diplomacia legislativa do Senado fará sua parte! Pela Comissão de Relações Exteriores, da qual sou vice-presidente, vamos buscar a defesa do nosso setor produtivo e dos empregos. É missão do nosso mandato tentar proteger os brasileiros das consequências de uma taxação exagerada e injusta, que prejudicará todos, sem exceção. Mantenho minhas convicções e sempre trabalharei para negociar e reconstruir pontes. É esse o nosso dever cívico”, destacou a senadora.
Representando a ala governista e na mesma linha de Nelsinho Trad, o senador Jaques Wagner (PT-BA) destacou que a comissão se trata de uma manifestação do Brasil em manter o diálogo com os EUA, tal como as relações diplomáticas e comerciais.
“Espero que tenhamos sucesso. Não nos interessa ter uma briga numa amizade, num comércio de 206 anos que nós temos com os americanos”, ele disse em vídeo divulgado em suas redes sociais.
Eduardo
Diretamente dos Estados Unidos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou a comissão externa dos senadores para o Capitólio. Em suas redes socias, ele disse que comitiva se trata de um “gesto de desrespeito à clareza da carta do Presidente Trump, que foi explícito ao apontar os caminhos que o Brasil deve percorrer internamente para restaurar a normalidade democrática”. Ao anunciar o tarifaço ao Brasil, Donald Trump manifestou, por meio de uma carta, que a medida era uma resposta ao Brasil por supostamente implementar medidas injustas aos EUA e também como uma retaliação ao processo judicial enfrentado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Questionado pela reportagem sobre o posicionamento de Eduardo Bolsonaro, Nelsinho Trad não evitou o confronto direto, reiterando que a missão “não é sobre disputa política”.
“É uma ação suprapartidária, aprovada por unanimidade no Senado, que representa o interesse do Brasil. O foco está na defesa de empregos, investimentos e parcerias estratégicas. Quem quiser protagonismo está no caminho oposto do que o momento exige”, disse o presidente do comitê internacional ao Correio da Manhã.
O período de licença de Eduardo Bolsonaro como deputado federal terminou em 20 de julho. Porém, durante live ele anunciou que não retornará ao Brasil mas também não abrirá mão do cargo de parlamentar. Agora, cabe à Mesa da Câmara dos Deputados cassar seu mandato, ou não.