EUA podem sancionar Alcolumbre e Motta, ameaça Eduardo Bolsonaro

Em entrevista, deputado chantageia presidentes do Senado e da Câmara por impeachment de Alexandre de Moraes e anistia a Jair Bolsonaro

Por Jorge Vasconcellos

Eduardo Bolsonaro

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) abriu, nesta sexta-feira (25), um novo front de sua ofensiva contra o Brasil. Em tom de ameaça, afirmou que os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), podem sofrer sanções do governo dos Estados Unidos.

"Quando Rodrigo Pacheco [ex-presidente do Senado] perdeu o visto, foi porque ele não pautou nenhuma das dezenas de pedidos de impeachment que chegaram a sua mesa, ou seja, ele fez parte desse aparato que sustentou o regime brasileiro. O Davi Alcolumbre não está nesse estágio ainda, mas certamente já está no foco do governo americano", disse o filho do ex-presidente ao programa Oeste com Elas, da Revista Oeste.

Embora cite Rodrigo Pacheco, a suposta revogação de seu visto americano foi citada apenas pela imprensa, sem qualquer confirmação oficial.

Eduardo prosseguiu: "Ele [Alcolumbre] tem a possibilidade agora de não ser sancionado e não acontecer nada com o visto dele se ele não der respaldo ao regime. E também o Hugo Motta também, porque na Câmara dos Deputados tem a novidade da lei da anistia. Impeachment de ministro fica a cargo da presidência do Senado, anistia fica a cargo do presidente da Câmara. Eu tenho certeza que o Davi Alcolumbre e o Hugo Motta não são iguais ao Alexandre de Moraes [ministro do Supremo Tribunal Federal]".

O deputado está nos EUA desde março articulando com autoridades ligadas ao governo Donald Trump uma série de medidas com o objetivo obstruir o processo no qual Jair Bolsonaro é réu no STF sob acusação de ter liderado uma conspiração golpista após a derrota eleitoral de 2022.

Nesse contexto, Trump anunciou que os produtos brasileiros vendidos a seu país serão taxados em 50%, e o Departamento de Estado dos EUA decidiu revogar o visto de Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro, de outros ministros da Corte e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Ameaças

Ainda na entrevista, Eduardo Bolsonaro destacou que está "mandando recados" aos presidentes da Câmara e do Senado e alertando que "se o Brasil não conseguir pautar a anistia, se o Brasil, não conseguir, de repente, ainda que num segundo passo, pautar o impeachment de Alexandre de Moraes, a coisa ficará ruim".

"O Davi Alcolumbre e o Hugo Motta têm que prestar atenção no que está acontecendo aqui [nos Estados Unidos], eu estou mandando vários recados, mas a minha percepção do que eu tenho olhado aqui é o que está realmente se passando", disse o deputado.

"Crime intolerável"

Momentos depois da entrevista, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), classificou como “um crime intolerável” as ameaças de Eduardo Bolsonaro.

“A ameaça de Eduardo Bolsonaro aos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, é um crime intolerável contra a soberania e a democracia no Brasil. A conspiração desse traidor da pátria com os agentes de Donald Trump descamba para uma chantagem cada vez mais indecente, exigindo anistia de Jair Bolsonaro e impeachment de Alexandre Moraes para suspender sanções dos EUA ao Brasil”, afirmou Gleisi, em post na rede social X.

“Perderam a eleição, nunca reconheceram o resultado, tentaram dar um golpe, assassinar o presidente eleito, e agora querem uma intervenção estrangeira no Judiciário e no Congresso do nosso país. E ainda querem se passar por vítimas. Esse crime de lesa-pátria não pode ficar impune”, acrescentou a ministra.

Tiro pode sair pela culatra

Já o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), expôs o entendimento de que a nova “chantagem” de Eduardo pode provocar um efeito inverso ao esperado pelo deputado.

“É uma chantagem. Uma ameaça explícita. Eduardo Bolsonaro queimou todas as pontes e tenta intimidar o Congresso Nacional com sanções estrangeiras, apontando Alcolumbre e Hugo Motta como possíveis alvos dos EUA caso não pautem o projeto de anistia aos golpistas. Mas o efeito será o contrário. Alguém realmente acha que, depois dessa ameaça pública e absurda, Alcolumbre e Motta vão pautar esse projeto?”, postou Lindbergh, no X.

“Seria uma desmoralização completa do Congresso, uma rendição vergonhosa à pressão externa articulada por um deputado submisso a interesses estrangeiros. Eduardo Bolsonaro acaba de enterrar qualquer possibilidade real de anistia. Ameaçar o Legislativo foi o maior tiro no pé”, finalizou.