Veto para aumento de deputados azeda relação com Congresso

Decisão sobre IOF também pesou. Como retaliação, parlamentares aprovam "pauta bomba"

Por Gabriela Gallo

Sessão da madrugada de quinta foi primeira retaliação

Após o que pareceu um clima de união entre o Executivo e Legislativo perante as tarifas de 50% para produtos brasileiros anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump (Republicano), os poderes voltaram a apresentar atritos devidos a pautas que geram impactos econômicos. A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em manter o decreto presidencial que aumenta a alíquota do Imposto de Operações Financeiras (IOF) somado ao veto presidencial, publicado no Diário Oficial da União (DOU) nesta quinta-feira (17), que barra o projeto de lei que aumenta o número de deputados federais de 513 para 531 azeda a relação entre os governo e Congresso Nacional, que deve retaliar as decisões do governo.

A expectativa é que as principais retaliações realizadas pelo Congresso sejam aplicadas após o recesso parlamentar, a partir de 1º de agosto, especialmente no campo fiscal. Mas os congressistas já começaram uma retaliação ao aprovarem tanto o projeto que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental quanto a “pauta bomba” que libera crédito extra de R$ 30 bilhões para o agronegócio, na madrugada desta quinta-feira (17).

Nos bastidores, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), teve conhecimento do veto de Lula após a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ter comunicado que seria publicado no DOU, e que ela tentou convencer Lula a não se manifestar sobre o projeto.

Queda de braço

Ao Correio da Manhã, o Doutor em Direito Constitucional e professor de Graduação e pós-graduação da USP Rubens Beçak pontuou que, no caso do veto do presidente da República para aumentar a quantidade de deputados federais, o Congresso deve derrubar. “O Congresso não terá dificuldade em reunir a maioria dos parlamentares, e com isso vamos ter mais uma situação de queda de braço. O Congresso [deve] querer deixar claro que a competência para deliberar sobre aumento [de deputados], ou não, é do Parlamento”, disse o advogado.

Por outro lado, o projeto que aumenta o número de deputados tem um alto índice de desaprovação da população. Isso porque o aumento das vagas poderia gerar um efeito cascata para demais poderes (como câmaras municipais e estaduais), resultando em um impacto orçamentário. De acordo com a Pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira (16), 85% dos brasileiros são contra a ampliação de 513 para 531 cadeiras na Câmara de Deputados. Diante disso, considerando as eleições de 2026, circula nos bastidores a expectativa de que a derrubada do veto não tenha tanta força para ser derrubado.

IOF

Para além do aumento de deputados, as alterações do IOF – que já estão valendo – também são outro problema na relação entre os poderes. O governo publicou um decreto anunciando aumento da alíquota do imposto como uma medida para aumentar a arrecadação, após um anúncio de corte de gastos feito pela equipe econômica do governo.

Apesar do Ministério da Fazenda ter realizado mudanças amenizando o texto, a decisão de Moraes não foi bem aceita pelos Congressistas, que argumentam que o IOF se trata de um tributo regulatório, não arrecadatório. O caso foi para a Suprema Corte que, após uma tentativa de reunir os três Poderes para chegar a um acordo – em uma tentativa falha –, decidiu que é Constitucional o governo alterar a alíquota do IOF, com exceção de uma regra que previa a incidência do imposto sobre operações de risco sacado.

Questionado pela reportagem sobre uma eventual resposta do Congresso à decisão de Moraes sobre o IOF, o constitucionalista Rubens Beçak comentou que o Parlamento “pode fazer um novo decreto legislativo”, contudo, a questão irá ser encaminhada novamente para o Supremo, que “vai entender que é inconstitucional com base na decisão já tomada”. Portanto, resta aguardar para ver quais serão os próximos passo.

A reportagem ainda conversou com o CEO da consultoria Pulse Capital Marcos Camilo, que explicou que as mudanças no IOF terão um impacto financeiro generalizado e que devem resultar em uma redução no consumo. “O custo do crédito vai aumentar de forma geral. Operações de financiamento, cartão de crédito, câmbio e todas as atividades financeiras são objeto de tributação pelo IOF nesta modalidade. O impacto é generalizado, tanto para o consumidor final quanto para a cadeia produtiva. Operações financeiras são aplicáveis em todos os níveis do mercado. Quem mais sofre são as classes de menor renda que tem menos condição de absorver o impacto”, disse Camilo.

Na mesma linha, para o Correio o sócio do escritório Meirelles Costa Advogados Morvan Meirelles Costa Junior completou que “essa medida, embora possa contribuir para a arrecadação federal, pode resultar em uma redução do poder de compra da população, em um encarecimento do acesso ao crédito e em um desestímulo ao consumo e ao investimento”.