Crise com Trump alavanca Lula e desgasta Bolsonaro
Pesquisa Quaest mostra presidente avançado em todos os cenários. Ele empata somente com Tarcísio no segundo turno
Após registrar os primeiros sinais de recuperação em sua popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também apresentou avanço expressivo nas intenções de voto para a eleição presidencial de 2026. Pesquisa divulgada nesta quinta-feira (17) pela Genial/Quaest mostra o petista liderando em todos os cenários de primeiro turno testados. A rejeição à sua eventual candidatura também recuou: em maio, 66% dos entrevistados afirmavam ser contrários a um novo mandato. Agora, esse percentual caiu para 58%. Ao mesmo tempo, a parcela da população que apoia sua candidatura cresceu de 32% para 38%.
Do lado da direita, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segue sendo o nome mais competitivo do campo conservador. Nos quatro cenários simulados para o primeiro turno, porém, Lula agora aparece à frente em todos: tem 32% contra 26% de Bolsonaro; 30% contra 19% da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL); 32% diante dos 15% do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e 31% contra 15% do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Segundo turno
O levantamento também traçou oito cenários de segundo turno, nos quais Lula venceria todos os adversários testados — com exceção de um empate técnico. O petista aparece com 43% das intenções de voto contra 37% de Jair Bolsonaro; 43% contra 36% de Michelle Bolsonaro; 41% frente a 36% do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD); 41% contra 36% do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD); 43% a 33% sobre Eduardo Bolsonaro; 42% a 33% diante do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e 42% contra 33% do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Lula apenas empata tecnicamente dentro da margem de erro de dois pontos percentuais com o governador paulista, por 43% a 37%.
Em comparação com a rodada anterior da pesquisa, divulgada em junho, o presidente Lula melhorou seu desempenho. Naquela ocasião, o petista aparecia tecnicamente empatado em cenários de segundo turno com Bolsonaro, Tarcísio, Ratinho, Michelle e Leite. Agora, pela primeira vez desde o início da série histórica da pesquisa, em março de 2025, o ex-presidente aparece perdendo para o atual chefe do Executivo em uma disputa de segundo turno.
Tarifaço
Para o diretor da Quaest, Felipe Nunes, os resultados das simulações refletem os efeitos negativos provocados após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), que ameaçou impor uma tarifa extra de 50% sobre produtos brasileiros. Entre os argumentos utilizados por Trump está a defesa de Bolsonaro em relação à ação penal que ele responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente articular uma tentativa de golpe de Estado em 2022.
“Na pesquisa anterior, ele [Bolsonaro] e Lula estavam numericamente empatados, com 41% cada. Agora, Lula abriu seis pontos de vantagem”, afirmou o cientista político. Ele acrescentou que o governador de São Paulo também sentiu os efeitos das ameaças de sanções econômicas. No dia do anúncio feito por Trump, Tarcísio de Freitas atribuiu a responsabilidade ao presidente Lula. Na pesquisa anterior, o paulista estava apenas um ponto atrás do petista. Agora, oscilou negativamente e aparece quatro pontos abaixo.
Neste âmbito, Nunes observa que apesar da visibilidade internacional com o tarifaço de Trump, Eduardo Bolsonaro — que se mudou para os EUA para denunciar supostas violações de direitos humanos no Brasil — “não converteu o protagonismo em ganhos eleitorais”.
Bases eleitorais
O fôlego recente de Lula na corrida pela reeleição em 2026 tem origem clara no apoio firme de suas bases. A ampla maioria dos eleitores identificados como lulistas ou petistas, 90%, é favorável à sua candidatura. Entre os simpatizantes da esquerda fora do PT, esse apoio chega a 72%. Já no eleitorado de centro, mais moderado, 28% defendem que o presidente tente um novo mandato. No campo oposicionista, Bolsonaro viu crescer o respaldo à sua candidatura apenas entre os eleitores mais fiéis ao seu nome. Embora tenha havido leve avanço no apoio vindo da direita não bolsonarista, a maior parte desse segmento ainda prefere que ele desista da disputa. Entre os eleitores de centro — considerados decisivos — apenas 17% acham que o ex-presidente deve manter sua candidatura.
“Na guerra das rejeições, Bolsonaro continua sendo, como foi durante todo o ciclo eleitoral de 2022, ligeiramente mais rejeitado que Lula. O medo de que Bolsonaro volte a ser presidente chega a 44%, enquanto o medo de que Lula continue é de 41%. É empate na margem de erro, com pequena vantagem numérica para Lula”, acrescentou o diretor do instituto.
O levantamento da Quaest foi realizado entre os dias 10 e 14 de julho, com entrevistas presenciais feitas com 2.004 pessoas em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança da pesquisa é de 95%. O estudo foi encomendado pela Genial Investimentos.