Lula decide vetar PLP que aumenta número de deputados

Decisão só deverá sair nesta quinta. Comissão especial da Câmara aprova projeto que aumenta isenção do IR

Por Gabriela Gallo

Relatório de Lira aumenta isenção e taxa os mais ricos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu vetar o Projeto de Lei Complementar que eleva o número de deputados federais de 513 para 531 (PLP 177/2023). A decisão deve ser publicada na edição do Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira (17). Com a medida, o texto retornará para o Congresso Nacional decidir se derrubará, ou não, o veto. Caso os congressistas derrubem o veto presidencial, a mudança já passa a valer a partir das próximas eleições em 2026.

Inicialmente, Lula foi aconselhado a não se posicionar sobre o tema – para evitar mais desgaste com o Legislativo –, transferindo a responsabilidade para o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Contudo, em reunião com ministros nesta quarta, o presidente optou por vetar o projeto, atendendo recomendação do Ministério da Fazenda, que alega que o PLP não cumpre com a previsibilidade orçamentária e fere a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O possível aumento de deputados federais visa equilibrar o crescimento populacional e veio após o Supremo Tribunal Federal (STF), em 2023, acatar um recurso do governo do Pará que apontou uma omissão do Poder Legislativo em atualizar o número de deputados de acordo com a mudança populacional. Considerando a Câmara dos Deputados como a Casa que representa o povo brasileiro, a Constituição Federal determina que o número de deputados seja proporcional ao total de moradores de cada estado. Nos últimos anos, alguns estados tiveram um crescimento populacional e outros uma queda, mas não tiveram uma distribuição das cadeiras.

Segundo informações da Diretoria-Geral da Câmara, a medida custaria um impacto orçamentário de R$ 64,8 milhões por ano (considerando não apenas os novos parlamentares, como também a equipe de seus gabinetes). Porém, os relatores acataram uma emenda que limita o impacto orçamentário, prevendo que um impacto de R$ 10 milhões por ano. O projeto vem sendo criticado pela população.

IRPF

Além disso, nesta quarta-feira (16) a Comissão Especial na Câmara dos Deputados criada para analisar o projeto de lei apresentado pelo governo federal que altera as regras do Imposto de Renda (PL 1087/2025) aprovou o parecer do relator da medida, deputado Arthur Lira (PP-AL). O texto segue para votação no plenário da Casa, com previsão para ser apreciado em agosto.

O texto amplia a isenção do pagamento do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, além de uma redução parcial de imposto para quem recebe entre R$ 5.001 e R$ 7.350. Para compensar a perda arrecadatória com a medida, o texto determina uma taxação progressiva, que começará para aqueles quem ganham R$ 600 mil por ano (R$ 50 mil por mês), e finalizaria com uma taxação de 10% para quem tem uma renda anual a partir de R$ 1,2 milhão.

Ao Correio da Manhã, o advogado tributário sócio do Ernesto Borges Advogados Sandro Miguel Júnior, afirmou que, na prática, essa medida “significa mais dinheiro no bolso do trabalhador, o que pode estimular o consumo e aliviar o orçamento familiar”.

“Em resumo, a proposta favorece diretamente quem vive de salário, corrige distorções da tabela do imposto de renda e avança na direção de um sistema mais justo e progressivo”, ponderou o tributarista.

Por outro lado, ao ser questionado pela reportagem, Sandro Júnior acredita que o texto não deve ser aprovado, ao menos na forma como se encontra. O advogado relembrou que o Brasil já tributa a renda de pessoas jurídicas, “ou seja, os lucros das empresas já pagam impostos” como o Imposto de Renda para Pessoa Jurídica (IRPJ), que atualmente é de 15%, e a a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), que varia dependendo a instituição. O parecer de Lira colocan um limite de 34% na tributação combinada de pessoas físicas e jurídicas consideradas de alta renda (que tenham carga tributária total que seja a soma do IRPJ e a CSLL pagos pela empresa ao imposto mínimo devido pelo sócio). Apesar desse limite, o advogado avalia que ao tributar “duas vezes a mesma base econômica”, a medida pode desestimular investimentos.

“O ideal seria priorizar a revisão e racionalização dos gastos públicos, em vez de recorrer ao aumento da carga tributária. O Estado brasileiro ainda enfrenta desafios de eficiência e alto custo operacional. Criar impostos ou ampliar os existentes pode acabar transferindo esse peso para quem empreende e investe, o que pode desestimular a atividade econômica. Um caminho mais sustentável seria focar na racionalização do Estado, na melhoria da gestão pública e na simplificação do sistema tributário, tudo isso sem sobrecarregar ainda mais a atividade econômica”, explicou Sandro.