Em momento delicado, Lula estanca queda na popularidade
Embora menor que desaprovação, aprovação alcançou maior patamar do ano na AtlasIntel
Mesmo enfrentando o momento mais delicado de seu terceiro mandato nas relações com o Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viu sua aprovação subir em junho. É o que aponta pesquisa divulgada nesta terça-feira (8) pelo Instituto AtlasIntel em parceria com a Bloomberg. Segundo o levantamento, a taxa de aprovação do presidente passou de 45,4% para 47,3%, alcançando o maior patamar registrado em 2025. Já a desaprovação caiu de 53,7% para 51,8%, sinalizando uma discreta recuperação na imagem do governo. Apenas 0,9% dos entrevistados não souberam opinar.
Em relação a maio, quando a imagem negativa do petista era 54%, os últimos dados mostram certa estabilidade, com a diminuição de um ponto percentual, para 53%. Já a perspectiva positiva apresentou uma subida suave, de 45% para 47%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad — que tem liderado o diálogo com o Legislativo sobre as pautas econômicas —, recebeu dos entrevistados uma visão otimista ainda mais firme: de 42% para 45%. Do lado contrário, deixou de ser percebido negativamente de 56% para 51% dos questionados.
Eleições 2026
A pesquisa também avaliou possíveis cenários eleitorais para 2026, com base nos nomes que disputaram o último pleito. Lula aparece em desvantagem, ainda que dentro da margem de erro, apenas em um eventual confronto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com 44,4% das intenções de voto contra 46% do ex-chefe de Estado. No entanto, esse cenário é considerado atualmente improvável, já que Bolsonaro foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a oito anos de inelegibilidade, até 2030, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao atacar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro.
Considerando possíveis adversários no campo da direita, Lula venceria com ampla vantagem no primeiro turno os nomes testados. Contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente aparece com 44,6%, ante 34% do oponente. Já em um embate com Michelle Bolsonaro (PL), Lula tem 45%, contra 30,4% da ex-primeira-dama. Em eventuais disputas de segundo turno, o petista mantém a dianteira com margens discretas: 0,7 ponto percentual sobre Tarcísio e 0,5 p.p. sobre Michelle, ambas dentro da margem de erro. Somente contra Bolsonaro, Lula aparece numericamente atrás, também dentro do limite estatístico.
Campanha
Esses resultados confirmam tendências já observadas pelo Palácio do Planalto por meio de levantamentos internos, as chamadas “pesquisas tracking”, baseadas em monitoramento diário das redes sociais. De acordo com informações da coluna Correio Político, esses dados já indicavam uma recuperação da popularidade do presidente nas últimas semanas, que a pesquisa agora confirma.
A melhora coincide com a reação do governo após a aprovação, no Congresso Nacional, do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que derrubou a proposta da equipe econômica de aumentar as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), além da aprovação do projeto que amplia de 513 para 531 o número de deputados federais. Diante da derrota, o governo lançou uma nova estratégia de comunicação. A campanha do Partido dos Trabalhadores, apelidada de “taxação dos BBBs” — bilionários, bancos e bets (casas de apostas) — tenta reforçar a imagem de Lula como defensor dos trabalhadores, enquanto aponta o Parlamento federal como alinhado aos interesses dos grandes empresários.
“Precisa de mais”
Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político André Rosa avaliou que a proximidade dos números entre Lula e seus possíveis adversários na pesquisa acende um alerta para a eleição do próximo ano. “Dados muito próximos neste período eleitoral. Para quem detém a máquina pública, deveria chegar aos cerca de 10% em relação ao segundo colocado, o que liga um sinal de alerta”, considera. Rosa ainda destaca que “Lula vai precisar dispor de maior recurso financeiro e de uma estratégia muito mais eficaz para que ele tenha uma campanha vitoriosa”.
“A tendência é que o governo continue se desgastando, a não ser que adote uma estratégia de curto prazo — algo ainda imprevisível, mas que possa influenciar a conquista de votos. A proposta de taxar as bets e os mais ricos é uma estratégia interessante, muito bem pensada. No entanto, é importante notar que essa melhora na pesquisa veio após o caso das fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social INSS) perder força e sair um pouco do foco”, acrescentou o especialista.
É importante lembrar que a expectativa é que o Congresso instale a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o INSS no segundo semestre, após o recesso. O governo buscou ressarcir os lesados de forma breve com o objetivo de não prolongar a discussão sobre o assunto e trabalhou pela não instauração do colegiado. Nos bastidores, há a preocupação de que a investigação a ser promovida pela CPMI desgaste ainda mais a imagem do Executivo.