"Inimigo do povo": estudo revela colapso da imagem de Hugo Motta

Empresa de comunicação digital Ativaweb coletou 2,5 milhões interações públicas nas redes sociais

Por Jorge Vasconcellos

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB)

Apenas cinco meses após assumir a presidência da Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) vê seu prestígio político afundar em um verdadeiro tsunami digital. Em razão do comportamento e das escolhas que fez, o parlamentar enfrenta forte rejeição popular, sobretudo entre os brasileiros que sofrem e se revoltam contra as desigualdades sociais e econômicas que envergonham o país.

A empresa de comunicação digital Ativaweb realizou uma análise técnica aprofundada da repercussão digital envolvendo o presidente da Câmara durante sete dias consecutivos. O estudo reuniu 2.567.934 interações públicas nas redes sociais, com base em dados do Facebook, Instagram, X (ex-Twitter) e Tik Tok.

O levantamento revelou um cenário de desgaste crescente, marcado por uma indignação transversal que uniu direita, esquerda e, principalmente, usuários sem filiação política. Hugo Motta passou a ser percebido como símbolo dos privilégios institucionais e da desconexão com o sentimento popular.

Vídeos com estética popular e a narrativa de confronto entre ricos e pobres viralizaram fortemente em Tik Tok, Reels, X e WhatsApp. Esses conteúdos associaram diretamente a figura de Hugo Motta à elite política beneficiada por privilégios e gastos excessivos, cristalizando sua imagem em frases como “quem paga é o povo”.

Além das bolhas

Uma triagem manual de 1.000 perfis mostrou que a maioria dos críticos de Hugo Motta não pertencente a grupos políticos tradicionais. São cidadãos digitais conectados com pautas como justiça social, custo de vida e representatividade. A aprovação do aumento do número de deputados, por exemplo, foi percebida como um insulto à realidade da população.

O levantamento mostra também que o volume de críticas contra Hugo Motta nas redes não nasceu apenas da esquerda, que apenas impulsionou os conteúdos com investimento financeiro. “O conteúdo rapidamente transbordou para a direita e, principalmente, chegou ao povão”, diz o relatório da pesquisa.

“Quando o discurso encarna o apelo do pobre contra o rico, ele fura bolhas, ultrapassa ideologias e vira combustível de revolta popular”, explica Alek Maracajá, CEO da Ativaweb. “Crises digitais não seguem lógica institucional, seguem lógica simbólica. O digital escolhe rostos para encarnar revoltas.”

“Inimigo do povo”

Conforme o estudo, a análise semântica das menções a Hugo Motta levantou termos com forte carga simbólica: “inimigo do povo”, “amigo dos ricos”, “Eduardo Cunha 2.0”, “mamata 2.0”, “vergonha nacional”, “quem paga é o povo”, “quer mais deputados pra mamar”.

“Quando a figura pública é comparada a ícones de rejeição histórica, o desgaste deixa de ser conjuntural e vira estrutural”, explica Maracajá.

Rejeição emocional domina

Durante o estudo, a distribuição das menções foi segmentada por sentimento: 68% com linguagem emocional (indignação, ironia e raiva); 22% com crítica racional (argumentos, dados, justificativas); 10% neutros ou informativos. A análise mostra que a crise de imagem de Hugo Motta não é apenas política – ela se tornou emocional, simbólica e viral.

“Esse é o ponto mais sensível: ao se tornar símbolo de privilégios e de uma classe política desconectada da realidade, Hugo Motta passou a ser alvo de uma crítica orgânica que unifica extremos. E o que era bolha virou correnteza”, destaca o estudo, que foi conduzido pela Ativaweb com base em metodologias avançadas de Big Data, combinando inteligência artificial, linguística computacional e inteligência semântica, para interpretar mais de 2,5 milhões de interações públicas.

Em tempos de crise, diz a Ativaweb, dados não servem apenas para medir impacto – eles antecipam cenários, orientam estratégias e traduzem o código emocional da sociedade. Como mostra este caso, uma boa leitura dos dados pode ser a diferença entre conter uma crise ou deixa-la virar narrativa dominante.

“A diferença entre o dado bruto e a inteligência estratégica está na capacidade de interpretação. E isso, hoje, decide o destino de reputações inteira”, afirma Maracajá.