Pesquisa reforça momento ruim da relação entre governo e Congresso
Quaest aponta que 46% dos deputados federais avaliam Lula negativamente
Enquanto o governo federal contesta a legalidade do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revogou o aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), uma nova pesquisa da Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (2), mostra um cenário de crescente desgaste político para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara dos Deputados. De acordo com o levantamento, 46% dos deputados federais avaliam negativamente a gestão do presidente. Apenas 27% consideram o governo de forma positiva, enquanto 24% classificam a administração como “regular”. Outros 3% não souberam ou preferiram não responder.
Este é o pior índice de avaliação do terceiro mandato de Lula entre os deputados desde o início da série histórica da pesquisa, em agosto de 2023. O levantamento também revelou a divisão ideológica dos parlamentares: 32% se dizem apoiadores do governo, 32% se declaram oposição e 27% se consideram independentes. Quanto ao posicionamento político, 45% se classificam como de direita, 24% como de centro e 21% como de esquerda. Nem mesmo entre os deputados de esquerda o petista atinge unanimidade: 84% desse grupo avaliam sua gestão positivamente, enquanto na direita 86% têm uma percepção negativa.
A percepção sobre a relação entre o Executivo e o Congresso também é majoritariamente negativa. Para 51% dos deputados, essa relação é ruim; 30% a classificam como regular, e apenas 18% a consideram positiva. Entre os parlamentares de direita, apenas 6% avaliam essa interlocução como positiva — o índice sobe para 53% entre governistas e cai para 12% entre os centristas.
Articulação
A maioria dos parlamentares está cética quanto à capacidade do governo de aprovar sua agenda no Congresso: 57% acreditam que as chances são baixas (um aumento em relação aos 47% registrados em maio). Apenas 36% consideram as chances altas, número que representava 47% na pesquisa anterior. Entre os motivos apontados para a baixa produtividade legislativa, destacam-se a desarticulação política do governo (45%), o impasse sobre a anistia (33%), a não liberação de emendas parlamentares (15%) e a inoperância das comissões internas (6%). Apenas 1% dos entrevistados não souberam ou preferiram não responder.
De forma espontânea, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, foi citada por 12% dos deputados como a interlocutora mais efetiva do governo, seguida pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha (9%) — que ocupava o comando da SRI anteriormente —, o ministro do Turismo, Celso Sabino (6%), e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), com 5%. Apesar disso, 77% dos parlamentares acreditam que o governo ainda não realizou uma reforma ministerial efetiva. Apenas 14% consideram que sim.
A percepção de que o país está indo na direção errada cresceu de 55% para 64%, enquanto a avaliação de que o Brasil segue no rumo certo caiu de 40% para 28%. A economia permanece como o principal problema do país, segundo 31% dos entrevistados.
Eleições 2026
Em relação às eleições presidenciais de 2026, 50% dos deputados acreditam que o favorito será um candidato da oposição — aumento em relação aos 46% da última pesquisa. Por outro lado, caiu de 43% para 35% a expectativa de vitória de Lula ou de um indicado seu.
Mesmo inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue no radar político. Na avaliação de 51% dos deputados, ele deveria desistir da candidatura, contra 23% que defendem sua permanência como postulante. Entre os nomes da oposição, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lidera como principal aposta para a disputa presidencial, com 49% das menções, incluindo parlamentares governistas, independentes e oposicionistas.
Outros poderes
A atuação do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), recebeu avaliação positiva de 68% dos deputados. Outros 25% a consideram regular e apenas 6%, negativa. Já o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrenta maior resistência: 48% dos deputados avaliam sua atuação de forma negativa, 27% de forma positiva e 18% como regular. Sobre a frequência com que a Corte extrapola suas competências em relação ao Congresso, 49% afirmam que isso ocorre “sempre”, 28% “às vezes”, 12% “raramente” e 5% “nunca”.
A pesquisa Genial/Quaest ouviu 203 deputados federais, o equivalente a cerca de 40% do total da Casa Baixa. A amostra foi definida com base na distribuição regional e ideológica dos parlamentares, conforme o projeto Brazilian Legislative Surveys. A margem de erro é de 4,5 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.