Carla Zambelli sai do país; PGR pede prisão preventiva

20 dias após ser condenada pelo STF, parlamentar disse que vai utilizar sua dupla cidadania para morar na Itália

Por Karoline Cavalcante

Zambelli admitiu seguir exemplo de Eduardo Bolsonaro

A Procuradoria-Geral da República (PGR) entrou com um pedido de prisão preventiva contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) nesta terça-feira (3), após ela deixar o Brasil com a intenção de se estabelecer na Europa. Agora, caberá ao relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidir se acata ou não a solicitação. A ação ocorre 20 dias após Zambelli ser condenada pela Primeira Turma do STF a dez anos de prisão pela invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Em resposta, a parlamentar classificou o pedido como inconstitucional. “Deputado federal não pode ser preso, a não ser em flagrante delito, em um caso que seja não afiançável. Não é um crime inafiançável que eles estão me acusando de ter cometido — injustamente — e eu não estou sendo presa em flagrante. Vão rasgar a nossa Constituição de novo?”, declarou Zambelli em vídeo publicado em suas redes sociais.

“Perdeu, mané”

Mais cedo, em entrevista ao canal AuriVerde, Zambelli admitiu que a condenação pela invasão ao CNJ influenciou sua decisão de deixar o Brasil. Ela questionou a aplicação da justiça, comparando sua situação à de Débora Rodrigues dos Santos, cabeleireira condenada a 14 anos de prisão por pichar “perdeu, mané” na estátua em frente à Suprema Corte durante os atos de 8 de janeiro de 2023, considerando a pena imposta como exagerada.

Em seguida, anunciou que já está fora do Brasil para realizar tratamentos médicos, mas ressaltou que possui dupla nacionalidade e que partirá para a Itália ainda esta semana, onde também tem cidadania, com a intenção de morar no país europeu.

Segundo Zambelli mencionou, o objetivo é seguir os passos do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se afastou do cargo e se mudou para os Estados Unidos com a justificativa de denunciar uma suposta "ditadura" no Brasil.

Na semana passada, no entanto, o STF abriu um inquérito para investigá-lo por suas atitudes nos EUA. Na denúncia, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que, desde o início do ano, Eduardo vem fazendo declarações públicas reiteradas em que defende a imposição de sanções contra autoridades brasileiras com o objetivo de interferir nas investigações contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — réu na Suprema Corte por tentativa de golpe de Estado em 2022.

Condenações

A decisão do STF que determinou a prisão de Zambelli também acarretou a perda de seu mandato, além de sua inelegibilidade por oito anos. A parlamentar foi ainda condenada a pagar R$ 2 milhões em danos morais coletivos, valor que deverá ser dividido com o hacker Walter Delgatti, também condenado no caso e, segundo as investigações, contratado pela parlamentar para realizar a invasão. A sentença, unânime, ainda está sujeita a recursos.

Além da condenação pela invasão ao CNJ, Zambelli enfrenta outro processo no STF por perseguição e ameaça com arma de fogo ao jornalista Luan Araújo, ocorrido durante o segundo turno das eleições de 2022. Em agosto de 2023, o STF decidiu aceitar a denúncia da PGR, tornando a deputada ré neste caso. Zambelli, por sua vez, alegou que estava agindo em legítima defesa.

Em entrevista ao Correio da Manhã, a advogada especialista em relações internacionais Hanna Gomes afirmou que, embora a saída de Carla Zambelli do Brasil, semanas após a condenação, seja um comunicado pertinente, ela não representa nenhuma ilegalidade. Isso porque, nos autos da Ação Penal, não há a imposição de nenhuma cautelar que restrinjaesse direito de locomoção.

"Apesar da condenação, ainda cabe recurso e o processo não terminou. Sem cautelares específicas, uma pessoa, mesmo condenada, pode entrar e sair do país e se locomover livremente. Isso é o que chamamos de 'responder ao processo em liberdade'. A pessoa só precisa informar seu paradeiro e manter um defensor constituído. Por esses motivos, o movimento estratégico de Zambelli não pode ser visto como 'fuga', já que não houve violação de restrição — esse é o equívoco processual", afirmou Gomes.

Ela acrescentou que, caso a prisão preventiva seja determinada pelo relator, com um mandado de prisão em aberto, a deputada não poderá circular livremente em qualquer país europeu, mesmo possuindo cidadania italiana. No entanto, a ordem de prisão preventiva ou de prisão-pena (ao fim do processo) poderá sim ser cumprida na Itália, "considerando a interpretação dos países sobre os tratados de extradição e a legislação penal que regula a relação entre Brasil e Itália — nesse cenário, a questão envolve o Direito Internacional e os princípios de reciprocidade e cooperação jurídica", explicou a advogada.

À reportagem também buscou esclarecimentos com a Embaixada Italiana no Brasil mas não obteve retorno.